Título: Se vim para ajudar promover o diálogo, saio agora para preservá-lo
Autor: Nossa, Leonencio ; Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2011, Aacional, p. A4

Atingido por denúncias que o obrigaram a deixar o governo depois de apenas cinco meses, Antonio Palocci afirmou, ao transmitir o cargo de ministro-chefe da Casa Civil a Gleisi Hoffmann, que saia "com paz de espírito e de cabeça erguida". Avisou que ainda estava deixando o Palácio do Planalto para "preservar o diálogo"

Em seu discurso, Palocci citou a decisão da Procuradoria-Geral da República, que arquivou os pedidos da oposição de investigação de suspeitas de enriquecimento ilícito e tráfico de influência, insistindo que o aumento de seu patrimônio foi obtido legalmente. Mas ressalvou que "mundo jurídico não trabalha no mesmo diapasão do mundo político". "Ficar no governo com a permanência do embate político não permitiria que eu desempenhasse normalmente minhas funções na Casa Civil."

Palocci, que tentou demonstrar serenidade durante sua fala, e foi aplaudido de pé por duas vezes durante a cerimônia, lotada por ministros e políticos da base aliada, avisou que assumia "a responsabilidades pelas dificuldades" que o governo enfrentou recentemente. "Minhas atividades foram sendo comprometidas pelo ambiente político." E emendou: "Se vim para ajudar a promover o diálogo, saio agora para preservá-lo".

Imprensa. Palocci chegou para a cerimônia de transmissão de cargo pouco antes as 16h. Na saída do Planalto, ele deu um raro quebra-queixo, como são chamadas as entrevistas coletivas improvisadas e tumultuadas. Mais uma vez, ele não esclareceu pontos obscuros de seu polêmico enriquecimento patrimonial nos últimos anos.

"Não carrego nenhuma mágoa, nenhum ressentimento", disse o ex-ministro, enquanto tentava se desvencilhar de repórteres e chegar ao elevador. "A política é assim que funciona. A imprensa é assim que funciona, é por isso que a gente luta pela liberdade de imprensa. Eu saio com a cabeça erguida e a confiança de que a presidente fará muito pelo País."

Pedras e pontes. No discurso, o ex-ministro disse ainda que não queria fazer daquele até "um momento triste". "A vida é uma luta permanente e não costumo me abater pelas pedras no caminho, avisados que fomos pelo poeta: havia e haverá sempre pedras na nossa caminhada", disse ele, que em 2006 foi obrigado a deixar o Ministério da Fazenda. Na época, ele foi acusado de violar o sigilo da conta do caseiro Francenildo dos Santos Costa na Caixa Econômica Federal.

"A política é naturalmente conflituosa. Por isso é reservada aos librianos a tarefa de construir pontes. Pontes sobre as águas turbulentas", completou Palocci que fez questão de elogiar a presidente Dilma Rousseff e a sua sucessora no cargo. "Construir pontes significa, para mim, manter canais permanentes de um rico debate de ideias, franco e respeitoso¿, esclareceu.

Limpeza

O ex-ministro Antonio Palocci não compareceu ao seu gabinete no quarto andar do Planalto na manhã de ontem, deixando para seus auxiliares próximos a missão de limpar suas gavetas.