Título: Mais riscos do que custos a evitar
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2011, Economia, p. B6

A inflação corrente está em queda. Também a economia está esfriando. Nesse ambiente, não deixa de ser justificável indagar por que o Banco Central (BC) ainda eleva a taxa básica juros - como acaba de fazê-lo.

Mas quem fizer o exercício de pensar com a cabeça do BC também encontrará justificativas na resposta. A decisão sobre a taxa básica de juros, em regimes de metas de inflação, se leva em conta os acontecimentos do passado recente e do presente, considera muito mais as perspectivas do futuro próximo. Explica-se: a ação da política monetária é imediata sobre as expectativas, mas só se completa meses depois.

Embora a trajetória da inflação, neste momento, seja de baixa, há dúvidas sobre a consistência do recuo. Ninguém sabe exatamente, por exemplo, como ficarão os preços das commodities, nos próximos meses. Hoje eles estão em queda, mas amanhã podem voltar a subir - como já ocorreu, mais de uma vez, recentemente.

Quem olha para a trajetória da inflação em 2010 entende a preocupação. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou praticamente cravado no zero em junho, julho e agosto, mas os elementos que, naquela ocasião, levaram a uma baixa tão acentuada não impediram o repique que levou o índice a fechar o ano em 5,91%.

Dado que não dá para considerar que o BC desconheça os efeitos negativos de uma alta de juros, mesmo moderada, a mensagem da decisão de ontem é clara: os riscos de recidiva de pressões inflacionárias a evitar ainda são maiores do que os custos provocados por mais uma freada na atividade econômica e nas contas externas.

É COLUNISTA DO "ESTADO"