Título: BC eleva juro e fala em ajuste prolongado
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2011, Economia, p. B6

Decisão do Copom de elevar a taxa em 0,25 ponto porcentual, para 12,25%, manteve tendência e não surpreendeu o mercado financeiro

O Comitê de Política Monetária (Copom) seguiu exatamente o roteiro previsto pelo mercado financeiro e decidiu ontem elevar a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto porcentual, para 12,25% ao ano. Com o movimento - a quarta alta no ano e a segunda dessa magnitude -, o colegiado dá sequência ao esforço de levar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de volta à meta de 4,5% em 2012.

Ao anunciar a decisão, o BC pouco alterou o teor do comunicado de abril, apenas introduzindo as expressões "gradual" e "continua sendo" e retirando a expressão "neste momento". A leitura de parte do mercado é que o texto garante mais uma elevação da Selic em julho e deixa em aberto a possibilidade de novas altas nas reuniões seguintes, embora uma ideia mais clara só será possível após a ata da reunião, que será divulgada na semana que vem. Diferentemente de abril, em que parte do Comitê votou a favor de uma alta de 0,50 ponto porcentual na Selic, a decisão de ontem foi unânime.

"Dando seguimento ao processo de ajuste gradual das condições monetárias, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 12,25%, sem viés. Considerando o balanço de riscos para a inflação, o ritmo ainda incerto de moderação da atividade doméstica, bem como a complexidade que envolve o ambiente internacional, o Comitê entende que a implementação de ajustes das condições monetárias por um período suficientemente prolongado continua sendo a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta em 2012", informou o Banco Central.

Demanda. A elevação da taxa Selic busca conter o ímpeto da demanda de bens e serviços na economia, apontada como importante fator por trás da escalada dos preços no País. Com juros mais altos, não só o crédito fica mais caro para os consumidores (especialmente em ambiente no qual medidas adotadas pelo governo restringem o alongamento de prazos), mas também se cria um incentivo para as pessoas guardarem dinheiro em vez de gastarem mais.

Para o economista-chefe do banco cooperativo Sicredi, Alexandre Barbosa, a situação da economia brasileira exige juros maiores, pois a inflação não decorre só de choques de oferta (como a alta de preços de alimentos), mas também de excesso de demanda por bens e serviços.

Com base no comunicado do BC, ele espera pelo menos mais uma alta de 0,25 ponto porcentual na Selic. E avalia que a economia precisa crescer menos de 4% por algum tempo para que o IPCA retorne à meta.

A economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Zara, também acredita em pelo menos mais uma alta da Selic e avalia que novos movimentos para cima poderão ocorrer. Segundo ela, apesar da queda recente da inflação, a atividade econômica ainda é muito elevada e, por isso, o BC precisou elevar juros para conter a inflação.

Coerência. O ex-diretor do BC e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, disse que, diante da sinalização dada em abril, o Copom não tinha alternativa a não ser elevar o juro ontem. Segundo ele, as condições da economia, com desaceleração do crescimento e redução nos índices de preços, até permitiriam manter a Selic em 12%. Mas, diante da mensagem anterior e das expectativas para 2012 ainda estarem acima do centro da meta, a alta da Selic era questão de coerência.

Segundo Freitas, o atual aperto monetário de 0,25 ponto porcentual tem maior potência do que antes. Isso porque a taxa de juros real, que desconta a inflação, a partir de agora deve ser maior, já que o País entrou numa fase de "surpresas deflacionárias", depois de um início de ano em que a inflação ficou acima do que todo mundo esperava.

"O juro real maior pode levar o BC a repensar novos aumentos da Selic", disse o economista. "Se as expectativas de inflação continuarem caindo, não há motivo para o juro subir mais."