Título: Alemanha pede moratória para Grécia
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2011, Economia, p. B12

Proposta é para que o país tenha sete anos para pagar aos credores, mas é vista por agências de rating como uma declaração elegante de calote

A Alemanha propõe moratória de sete anos para que a Grécia comece a pagar seus credores, numa proposta que significa uma mudança radical na postura dos países europeus.

A UE e o FMI preparam um novo pacote de resgate. Mas a constatação de Berlim é que dar dinheiro já não é suficiente. Para agências de classificação de risco, a proposta não é nada mais que uma elegante e sofisticada declaração de default (calote) da Grécia, o que não seria diferente do que Argentina e outros países já fizeram há dez anos.

Em carta aos demais países da UE, a Alemanha diz que essa seria a melhor solução para evitar "o risco real da primeira quebra desordenada da zona do euro".

Para Berlim, está na hora de o setor privado arcar com parte da crise, e não deixar todo o esforço de resgate aos contribuintes dos diversos países. A ideia da Alemanha é de que credores que tenham de cobrar dívidas da Grécia no curto prazo possam trocá-las por papéis da dívida soberana de Atenas, com um prazo de pagamento em sete anos.

Na prática, isso diminuiria a dívida atual da Grécia, que chega a 160% de seu PIB, e o país não precisaria adotar novas medidas drásticas de cortes de salários para encontrar recursos para pagar suas dívidas no curto prazo. Enquanto isso, Atenas se comprometeria a reformar o Estado e atingir suas metas fiscais.

Vários bancos alemães indicaram que estão dispostos a fazer a troca. A resistência a uma restruturação da dívida vinha do Banco Central Europeu, que segue a linha das agências de crédito e insiste que a proposta equivale a decretar falência. A França também deixou claro que será contra qualquer restruturação.

Berlim, porém, estima que essa seja a única alternativa, já que vem sofrendo uma pressão cada vez maior da oposição e de cidadãos, contrários a dar um novo pacote para a Grécia. Em outros países, parlamentos já indicaram a seus governos que serão contrários a um novo pacote.

No lugar de apenas pagar, portanto, a Alemanha sugere que os credores privados esperem até 2018 para receber. Para Berlim, o setor privado deve também compartilhar parte dos esforços para salvar a Grécia e nem tudo deve recair sobre os governos.

Há um ano, a Grécia recebeu 110 bilhões em ajuda. Mas nem isso foi suficiente para restabelecer a confiança do mercado. Um novo pacote está sendo desenhado, e poderia variar entre 80 bilhões e 100 bilhões.

Para o ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaueble, está na hora de o setor privado dar sua contribuição "substancial". Sua esperança é de que a proposta seja aprovada na cúpula da UE, em 23 de junho.

Default. Para agências de rating, a proposta da Alemanha não passa de um default camuflado. Ontem, o mercado apostava que a aceitação da iniciativa seria seguida por uma redução drástica da classificação da Grécia. A agência Fitch foi uma das que alertaram para o default.

Agentes no mercado estimam que a proposta possa ser adequada para governos. Mas não para o setor privado, que não quer esperar sete anos para receber. Já bancos alemães, os mais expostos à Grécia, admitem que só haverá uma solução quando o setor privado se envolver.

Para que o governo alemão tenha feito tal proposta, a percepção na UE é de que os bancos nacionais já foram consultados e deram seu aval. A dívida grega com os bancos alemães chega a 23 bilhões de euros.