Título: BNDES ganha R$ 30 bi, apesar do alerta do BC
Autor: Graner, Fabio ; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2011, Economia, p. B1

Banco consegue R$ 30 bi no mesmo dia em que o |Copom advertiu para a necessidade de serem reduzidos os subsídios para a expansão do crédito

De nada adiantou os alertas do Banco Central. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) pressionou e conseguiu a liberação de mais R$ 30 bilhões do Tesouro Nacional no mesmo dia em que o Comitê de Política Monetária (Copom) advertiu, mais uma vez, para a necessidade de o governo reduzir os subsídios para a expansão do crédito.

Para o BC, esses subsídios trazem riscos e representam combustível extra para a inflação neste momento em que se trabalha para levar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao centro da meta de 4,5%.

O ritmo ainda alto de crescimento da oferta do crédito é um dos fatores apontados pelo BC que alimentam a demanda da economia e impulsionam os preços. "O Comitê considera oportuna a introdução de iniciativas no sentido de moderar concessões de subsídios por intermédio de operações de crédito", afirmaram os diretores do BC na ata. Foi o segundo alerta seguido do Copom sobre o problema.

Contragosto. O novo empréstimo ocorreu a contragosto de alguns integrantes da equipe econômica, que vinham defendendo a postergação para 2012 da liberação de boa parte da linha de financiamento de R$ 55 bilhões, autorizada pela Medida Provisória (MP) 526. A intenção era administrar a liberação para ajudar o BC no combate contra a inflação.

A expectativa agora é liberar os R$ 25 bilhões restantes somente no ano que vem, embora possa haver pressão do BNDES para que se libere ainda este ano.

A emissão dos títulos para o pagamento do empréstimo ao BNDES foi feita no dia da aprovação da MP pela Câmara dos Deputados, na terça-feira passada. O governo estava preocupado com o atraso na votação. Havia um temor, durante o auge da crise política envolvendo o ex-ministro da casa Civil Antonio Palocci, de que a MP fosse alvo de barganha política.

A pedido do Palácio do Planalto, a medida foi incluída na pauta de votação da Câmara como uma das prioridades do governo. A MP ainda terá que ser aprovada pelo Senado, mas o governo preferiu se antecipar e fazer a primeira tranche.

Estímulo. Os sucessivos empréstimos do Tesouro ao BNDES são subsidiados em condições mais favoráveis do que as de mercado. Eles garantem às empresas que conseguem financiamento do banco de fomento taxas de juros bem mais baratas. A linha de R$ 55 bilhões foi anunciada em março pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para reforçar o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), criado para estimular a venda de bens de capital e inovação. Os aportes do Tesouro somaram R$ 205 bilhões em 2009 e 2010.

Essa política é alvo, no entanto, de inúmeras críticas de economistas, que argumentam que os empréstimos ao BNDES são um dos responsáveis pelo aquecimento da economia brasileira e por uma menor eficácia da política monetária executada pelo BC, com reflexo na alta da inflação.