Título: A Ata do Copom discorda da presidente Dilma Rousseff
Autor: Graner, Fabio ; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2011, Economia, p. B1

A publicação da Ata da 159.ª Reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) afasta a possibilidade de qualquer modificação na atual política de metas de inflação, como alguns haviam sugerido. O aumento da taxa Selic também confirmou a manutenção dessa política.

Isso não significa que o estilo do documento não exiba algumas modificações. O Copom continua a se mostrar incerto a respeito da evolução da economia, tanto da economia doméstica quanto da internacional, em que, por sinal, o ritmo de crescimento do G-3 ainda é bem ruim, a perspectiva para a economia da China é de arrefecimento e os problemas da União Europeia se agravam, num quadro de liquidez internacional excessiva.

O Copom assinala uma melhoria no que se refere à perspectiva de inflação neste exercício. Mas, para 2012, sua projeção aumentou ligeiramente (por efeito dos reajustes salariais), o que justifica que se mantenha uma política firme de luta contra a inflação.

De fato, o Copom continua achando que a demanda doméstica é robusta e que o seu descasamento do crescimento industrial poderá apresentar um problema, ainda atenuado pela existência de estoques excessivos na indústria e pela importação. A robustez da demanda doméstica poderá decorrer de reajustes salariais superiores aos suportados por ganhos de produtividade e de uma expansão de crédito ainda maior, que só medidas macroprudenciais poderão reduzir.

É interessante destacar o papel que o Copom está dando ao ajuste fiscal como instrumento de luta contra a inflação. No período de Henrique Meirelles no Banco Central essa questão era escamoteada, dando a impressão de que existia um acordo entre ele e Lula para não tocar no assunto. A ata atual cita diversas vezes o esforço para conter os gastos públicos, parecendo até acreditar que houve grande progresso nesse sentido, apontando resultados decorrentes mais de aumento das receitas do que do corte dos gastos.

Há uma admoestação importante quando "considera oportuna a introdução de iniciativas no sentido de moderar concessões de subsídios por intermédio de operações de crédito". Na véspera, a presidente Dilma Rousseff liberara R$ 30 bilhões para que o BNDES ofereça créditos subsidiados à indústria, e ontem mesmo ela fez uma defesa formal dos subsídios.

Pode-se considerar que a política fiscal representa uma grande incerteza que poderá afetar o otimismo do Copom, que, no entanto, parece decidido a levar avante a sua política de austeridade, mas que deve ter sérias preocupações com 2012, em face da elevação do salário mínimo em 14%...