Título: Ata mostra BC cauteloso com a inflação
Autor: Graner, Fabio ; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2011, Economia, p. B1

De um lado, autoridade monetária indica que juro pode subir mais uma vez; de outro, reconhece que incertezas podem mudar o cenário

No estilo "uma no cravo, outra na ferradura", o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) demonstra estar um pouco mais otimista com o cenário para a inflação, mas segue preocupado com os riscos que podem impedi-la de voltar à meta de 4,5%.

Na ata da reunião realizada semana passada, o Copom viu melhora no quadro inflacionário, sem, no entanto, abandonar a preocupação com o crescimento da demanda de bens e serviços acima da capacidade de oferta, além dos possíveis excessos de aumentos nos salários e no crédito. Por isso, seguiu falando de ajuste "prolongado" do juro.

Com base na ata, o mercado consolidou as apostas em mais uma elevação na taxa Selic em julho, de 0,25 ponto porcentual, para 12,50% ao ano. Mas a leve melhora de humor da autoridade monetária alimentou as dúvidas sobre se haverá novas altas depois. O cenário central do mercado é de apenas mais um ajuste.

Mas há instituições que acreditam que o órgão terá de estender o aperto monetário ao menos para agosto, embora também haja casas que acreditem que o juro pode ficar onde está, especialmente se houver piora no conturbado cenário externo.

Mesmo com alta dos juros desde janeiro, as projeções de inflação para 2011 e 2012 permanecem acima da meta. No cenário alternativo, traçado pelo BC, a convergência para a meta ocorrerá no ano que vem.

O Copom observou aumento na volatilidade e na aversão ao risco nos mercados internacionais e identificou crescente incerteza quanto à recuperação da atividade econômica global. Além disso, avalia que, a despeito da recente moderação, os preços das commodities estão envoltos em grande incerteza e representam riscos "relevantes" para a trajetória da inflação.

Benigna. Para o economista-chefe do banco cooperativo Sicredi, Alexandre Barbosa, a ata de fato trouxe visão um pouco mais "benigna" para o cenário de inflação, mas indica mais uma alta da Selic. "A ata não foi preparação para o BC parar já o processo de alta, porque ainda toca em temas importantes, como o descompasso entre oferta e demanda, o crescimento de salários acima da produtividade, o mercado de trabalho", disse. "O juro só não sobe na próxima reunião se houver um agravamento muito importante da crise na Europa, com clara contaminação da economia mundial", completou.

Em relatório para clientes, o departamento econômico do Bradesco considera que a ata indica que o BC parece encontrar-se em "voo de cruzeiro", sem ainda preparar o terreno para que a última elevação da Selic ocorra já em julho. "A discussão relevante se concentrará na decisão do Copom de 31 de agosto", avalia o Bradesco. "Nosso cenário-base prevê que ocorra apenas mais uma elevação dos juros na reunião de 20 de julho, mas a probabilidade de nova elevação em agosto é crescente."