Título: Sem acordo, FMI e UE ajudam Grécia para evitar calote
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2011, Economia, p. B10/11

País está sem governo, mas recebe socorro temporário de 12 bi para evitar que Europa tenha o seu momento 'Lehman Brothers'

Sem governo e sem uma solução, a Grécia foi socorrida temporariamente pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pela União Europeia, que anunciaram a entrega da parcela de 12 bilhões para que Atenas honre suas dívidas.

A esperança era de evitar que um calote da Grécia repetisse os efeitos que a quebra do Lehman Brothers teve para a economia mundial. Mas a medida não convenceu os mercados, que aprofundaram ontem as desconfianças sobre todos os países periféricos da Europa e deixaram mais uma vez a Grécia e o euro à beira de um colapso.

Para analistas, a Europa enfrenta seu "momento Lehman Brothers", três anos depois da quebra do banco americano que levou consigo toda a economia dos países ricos. Desta vez, o ator não é uma instituição, e sim um país: a Grécia. Ontem, diante da falta de uma solução, o risco de países como Espanha, Portugal e Irlanda atingiram novos recordes, em um sinal claro que as medidas de contingência da UE e do FMI não estão dando resultados.

O maior problema é a falta de um acordo sobre uma solução para tirar a Grécia de uma vez por todas da crise. A Alemanha, que se recusa a pagar por um novo pacote, quer o adiamento de qualquer debate sobre um segundo resgate de longo prazo para a Grécia, pelo menos até que a UE entre em um acordo sobre quem deve pagar pela nova ajuda.

Além disso, o primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, que havia prometido para ontem o anúncio de um novo governo, fracassou em chegar a uma nova formação. No fim do dia, segundo uma TV grega, Papandreou anunciaria hoje a formação de um novo governo.

"Vou continuar buscando um amplo consenso", disse Papandreou. "Nossa resposta aos desafios é a estabilidade e a manutenção das reformas", afirmou o primeiro-ministro, em um sinal de que tentará resistir a uma demissão, como pede a oposição.

Bilateral. Hoje, o futuro da zona do euro será negociado, em uma reunião bilateral entre a chanceler Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy. Mas temendo um contágio generalizado, o FMI e a UE optaram por não esperar por um novo governo e mudaram suas condições para fazer o pagamento da nova parcela. O Fundo queria apenas liberar o dinheiro quando um novo pacote de resgate para a Grécia tivesse sido fechado. Ontem, aceitou a liberação dos recursos, com a promessa de Atenas de que irá até domingo aprovar novas medidas de austeridade. Para isso, porém, a Grécia precisa ter um governo, o que até agora não conseguiu.

Segundo Olli Rehn, comissário de Economia da UE, a liberação dos recursos evitaria um default que poderia ser decretado já em julho se o dinheiro não entrasse.

O entendimento entre o FMI e a UE não foi suficiente. Para diplomatas consultados pelo Estado, a realidade é que poucos sabem o que fazer agora. " Estamos só ganhando tempo, até que se defina o que faremos", disse um deles.

O governo alemão quer que a decisão sobre como será uma solução permanente para a Grécia seja postergada até que os países europeus cheguem a um acordo. A Alemanha havia proposto uma moratória para o pagamento da dívida grega e a transferência de parte dos custos do resgate ao setor privado. Berlim não quer se desgastar mais uma vez com seus eleitores, pedindo que um pacote de resgate seja aprovado para a Grécia. Mas diante da resistência do BCE e da França, a nova estratégia não é a de aceitar dar mais recursos, e sim adiar qualquer decisão até setembro, quando na realidade a Grécia terá de contar com mais 8 bilhões do pacote de resgate para pagar suas dívidas.

Na prática, a proposta coloca mais uma vez a Grécia e o euro sob o ritmo político da Alemanha e de suas batalhas internas. Merkel teme que, se for obrigada a pedir mais dinheiro ao Parlamento, pode ser punida e até ter seu governo ameaçado.

Sarkozy fez ontem um apelo para que Berlim aceite um novo pacote, alertando que a Europa precisa ter um " sentimento de compromisso" para ajudar a Grécia e o euro. "O que precisamos é de mais unidade. Sem o euro, não há a Europa e sem a Europa não há paz e estabilidade. Não temos o direito de afetar o euro."