Título: Importação de bens de consumo crescerá 36%, diz Funcex
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2011, Economia, p. B12

Até maio, a entrada de produtos cresceu 30% na comparação com os primeiros cinco meses do ano passado

As importações de bens de consumo duráveis e não duráveis, como automóveis, geladeiras e alimentos, devem fechar o ano com alta de 36%, somando US$ 34 bilhões. A estimativa é da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Caso esta previsão se confirme, a elevação ficará dez pontos porcentuais acima da taxa de crescimento (em valor) esperada pela Funcex para as importações totais.

Economistas alertam que, caso o cenário atual permaneça inalterado, a economia brasileira caminha para a desindustrialização. De janeiro a maio deste ano, as importações de bens de consumo já crescem acima de 30% ante igual período de 2010, enquanto as importações totais subiram 29%. Para a Funcex, os dados revelam que o ritmo menor das importações brasileiras, acompanha o freio na economia brasileira, mas isso não afetou o segmento de bens de consumo importados.

"A desaceleração das importações foi puxada mais pelo setor de bens intermediários, que fornecem insumos para a indústria. Com o menor ritmo da economia, o nível de atividade da indústria é menor e, com isso, diminuem as compras externas de insumos" disse o economista-chefe da Funcex, Fernando Ribeiro.

O dólar fraco é um dos principais responsáveis pelo cenário, alertou a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Lia Valls. Ela comentou que, na prática, o governo não tem aplicado mecanismo eficiente para conter a crescente de entrada de capital no País. Com isso, o dólar permanece convidativo às importações, oscilando ao redor de R$ 1,60. "Ao olharmos bem o cenário, podemos notar que isso ocorre desde 2007. Se nada for feito pode haver problemas, como a desindustrialização, no longo prazo", afirmou.

Para o economista da Unicamp e diretor do Departamento de Competitividade Industrial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, e Comércio Exterior (MDIC), Alexandre Comin, o processo de desindustrialização já chegou à economia brasileira. Ressaltando que sua análise é pessoal, e não reflete o entendimento do MDIC sobre o assunto, Comin afirmou "não ter muita dúvida" de que o Brasil passa por uma desindustrialização.

"Temos vários riscos concretos para os próximos anos. Este processo pode ser irreversível", afirmou Comin. Ele mostrou dados apurados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ainda não divulgados pelo banco, de que a participação de itens importados no total da indústria dentro do País passou de 13,5% para 19,4% de 2005 para 2010.