Título: Saudades de casa
Autor: Gonçalves, Glauber
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2011, Economia, p. B14

Nordestinos que migraram há mais tempo para o Rio querem voltar para a terra natal, mas os filhos mais escolarizados preferem ficar

Proprietário de uma lanchonete em uma esquina de Copacabana, o cearense Antônio Eufrauzino da Costa, 59 anos, está prestes a finalizar um período de 43 anos no Rio.

As notícias de que há uma explosão de consumo na sua região de orige fizeram com que Costa decidisse colocar o estabelecimento à venda, para tocar um novo negócio no Ceará.

"Se achar um comprador, vendo", diz depois de detalhar as melhorias nas condições de vida no nordeste nos últimos anos.

Os conterrâneos , que antes vinham para trabalhar no bar de Costa, já não têm demonstrado tanto interesse em migrar.

"Os que vêm, ficam uma semana e já querem ir embora", comenta Costa ao relatar a dificuldade de encontrar funcionários. "Já não há tanta diferença (entre o Nordeste e o Rio)".

A bonança mais ao norte, da qual o empresário fala, é explicada em grande parte pelos ganhos reais do salário mínimo nos últimos anos.

"Isso aconteceu no mandato de FHC e com mais força no de Lula. Em 2006, foi o maior ganho real de que se tem notícia: 12,9%", diz o economista Fábio Romão, da consultoria LCA.

Ele acrescenta ainda que o impacto na região é grande devido à maior concentração de trabalhadores com salário referenciado pelo valor do mínimo. "Esses seguidos ganhos reais acabaram por dinamizar mais o Nordeste do que o Brasil".

Ao contar os planos de retorno ao Ceará, Costa, casado com uma pernambucana, diz que a filha de 26 anos, formada em Direito, não quer deixar o trabalho como advogada no Rio para acompanhá-los.

Esse "efeito educação" tem sido mais um elemento redutor da oferta de mão de obra para funções que exigem pouca qualificação. Dados compilados pelo professor Marcelo Neri, da FGV, mostram que entre 1992 e 2008, a escolaridade média da população de faixa etária entre 20 e 24 anos aumentou de 6,3 para 9,7 anos.

"Pode estar havendo o efeito migração, mas além disso, o filho dos garçom que veio do Nordeste frequentou o ensino médio e, agora, não quer ter a mesma profissão do pai", afirma Neri.