Título: Começa a corrida por emprego no Rio
Autor: Gonçalves, Glauber
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2011, Economia, p. B14

Já faltam candidatos para 130 mil vagas em hotéis, bares e restaurantes até 2014

Sob a forte pressão de um mercado interno ainda aquecido - apesar da perda de ritmo dos últimos meses - o setor de bares, restaurantes e hotéis do Rio vai enfrentar um super choque de demanda de mão de obra nos próximos anos por causa da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016.

Até lá, cerca de 130 mil vagas devem ser abertas em estabelecimentos desse tipo na capital fluminense, espera o Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes (SindRio).

A corrida dos empresários contra o tempo para preencher esses milhares de postos de trabalho, porém, é dificultada por um entrave: a migração de nordestinos, que historicamente supriu grande parte da força de trabalho do setor, reduziu-se com o desenvolvimento socioeconômico da região nos últimos anos. Muitos trabalhadores "importados" também têm decidido voltar à sua região ao ver a economia nordestina se recuperando.

O empresário Eduardo Bellizzi, um dos sócios do restaurante Quadrucci, no bairro nobre do Leblon, vem sentindo na pele o problema há cerca de um ano. Em 2010, três funcionários da cozinha pediram demissão para voltar para o Nordeste. "Na cozinha ainda tem gente de lá, mas para funcionários de salão, como garçons, faz algum tempo que praticamente não há mais."

A maior parte dos migrantes que está retornando é justamente de trabalhadores que ocupam funções que exigem menor grau de qualificação e cuja remuneração é mais baixa. Profissionais mais qualificados e experientes, como chefs, que são mais bem pagos, têm preferindo permanecer no Rio, dizem empresários.

Recentemente, Bellizzi deparou-se novamente com o problema ao tentar selecionar 32 pessoas para um gastrobar que inaugurará este mês. "Já há uma expansão do setor por causa do aquecimento da economia. Com a Olimpíada, ficamos até preocupados, porque vai ser uma pressão maior do que a que já estamos tendo", diz.

A constatação das empresas confirma os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o Censo de 2000, nos cinco anos anteriores 160 mil pessoas haviam migrado do Nordeste para o Rio. Oito anos depois, de acordo com contagem feita pelo IBGE, esse número reduziu-se a menos da metade. Embora os dados do Censo de 2010 ainda não estejam disponíveis, o instituto espera nova queda.

Tráfico. Com cada vez menos trabalhadores migrantes, o Rio tem de recrutar trabalhadores locais, muitos deles à procura do primeiro emprego, mas esbarra em outro problema. Sob o jugo do tráfico, gerações de jovens que poderiam ocupar essas funções sofreram um isolamento social que lhes negou acesso à qualificação, mesmo que básica. Pior do que isso, muitos desconhecem até mesmo de padrões de conduta "do asfalto".

"O comprometimento de algumas das pessoas vindas de comunidades em que o tráfico imperava ficava um pouco comprometido. Em uma situação em que algum funcionário de uma comunidade comete deslizes dentro do restaurante, nenhum outro ousa falar, pois ele está exposto, pois mora na mesma comunidade e às vezes o colega tem laço com os traficantes", relata um empresário que não quis se identificar.

Com a retomada de territórios antes dominados pelo tráfico, a perspectiva é de que este cenário comece a mudar. Hoje, já são 15 as comunidades assistidas por Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) e o número de pessoas beneficiadas pelo projeto é de 200 mil, de acordo com dados do governo do estado.

O presidente do SindRio, Pedro de Lamare, está otimista com a redução da criminalidade na cidade, mas ressalta que será um desafio treinar profissionais suficientes até 2016. "É um momento muito rico e de empolgação em que essa população está sendo reintegrada à cidade. Isso facilita o treinamento dessas pessoas. A questão, porém, é que temos prazo e para formarmos um bom profissional é preciso tempo", ressalta.

Se para as empresas a redução do fluxo migratório é motivo de preocupação, os profissionais da área podem acabar tendo motivo para comemorar. Com a escassez de mão de obra, os salários estão aumentando e o movimento deve continuar nos próximos anos. "Quem vai sair ganhando nessa história serão os trabalhadores dessas ocupações. Para segurar esse pessoal, as empresas terão de oferecer um salário maior", avalia Carlos Henrique Corseuil, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Com a proximidade dos eventos esportivos, profissionais com inglês fluente serão alvo de disputa ferrenha, especialmente entre hotéis. O conhecimento da língua aumenta a remuneração em R$ 1.000, em média.

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