Título: Prefeito de Taubaté e sua mulher são presos pela PF
Autor: Macedo, Fausto ; Monteiro, Gerson
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/06/2011, Nacional, p. A10

Roberto Peixoto e a primeira-dama são acusados de ligação com cartel que fornece merenda, fraude em licitações e corrupção

A Polícia Federal deflagrou ontem a Operação Urupês e prendeu o prefeito de Taubaté, Roberto Peixoto (PMDB), e a mulher dele, Luciana Flores Peixoto, sob suspeita de associação com cartel para fornecimento de merendas e medicamentos, fraudes em licitações, superfaturamento, corrupção, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. A PF rastreia denúncia sobre duas empresas que teriam pago propinas para Peixoto no valor de R$ 5 milhões. O casal foi capturado em sua própria residência, no centro da cidade.

Também foi detido Carlos Anderson dos Santos, ex-chefe do departamento de compras da prefeitura e contador do prefeito. As prisões têm caráter temporário, por 5 dias. As acusações contra o prefeito remontam a 2007 - ele está em segundo mandato. A PF assumiu a competência sobre o caso porque pode ter ocorrido desvio de recursos da União, repassados para execução de programas nas áreas de educação e saúde.

Dois contratos sob análise pericial da PF provocaram desembolso total de R$ 36 milhões. O delegado Ricardo Carneiro, que conduz a operação, age com cautela. "Este é o valor dos contratos, não sabemos quanto foi objeto de desvio." Carneiro não revelou nomes em respeito ao segredo de Justiça.

A força-tarefa mobilizou 54 agentes e delegados para cumprir 13 mandados de buscas, 10 em Taubaté e três em São Paulo. Os policiais vasculharam a casa do prefeito por quatro horas. Do lado de fora a multidão aglomerou-se à porta. Aplaudiu, soltou fogos e gritou "justiça" quando Peixoto, sem algemas, saiu no carro da PF. Seu gabinete no Palácio do Bom Conselho, sede da prefeitura, foi inspecionado.

Fantasmas. Os federais percorreram a residência da filha de Peixoto, Roberta, em condomínio de alto padrão. Há suspeita de que bens adquiridos pelo prefeito teriam sido registrados em nome dela. Foram recolhidos documentos e arquivos de computadores. A ordem para a Operação Urupês foi dada pelo Tribunal Regional Federal da 3.ª Região, que acolheu requerimento da PF e da Procuradoria Regional da República. A PF batizou a missão com o nome de famosa obra de Monteiro Lobato, escritor nascido em Taubaté.

"A medida de busca se mostra de relevante importância pois, no atual estágio das investigações, não há mais meios de se amealhar novas provas sem que seja deflagrada a operação", sustenta a procuradoria. "Estamos investigando empresas contratadas sem concorrência e outras arranjadas, conduzidas", declarou o delegado Carneiro.

A PF fez buscas em três empresas. Uma linha de investigação aponta para empresas fantasmas. A PF mira a Acert Serviços Administrativos, contratada em 2008, sem licitação, por R$ 1,6 milhão. A Acert assumiu o gerenciamento dos medicamentos adquiridos de outras empresas depois da Operação Parasita, contra fraudes de R$ 100 milhões no setor da saúde em várias prefeituras, inclusive a de Taubaté.

A Acert não tem endereço, informática, nem linha telefônica. "Não entendemos como empresa nessa situação faz gerenciamento", anotou Carneiro. A empresa nunca teve outro cliente antes da gestão Peixoto. A primeira nota fiscal, 0001, de 5 de agosto de 2008, discrimina "prestação de contas da campanha eleitoral de Roberto Peixoto".