Título: BNDES teme estrangeiros no varejo
Autor: Chiara, Márcia De ; Rehder, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2011, Economia, p. B1

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) confirmou que avalia participar com até 2 bilhões de euros (R$ 4,5 bilhões) da fusão entre o Grupo Pão de Açúcar e o Carrefour. Em curta nota, o BNDES informou que a proposta ainda depende da aprovação da diretoria.

Fontes ligadas a negociação garantem que não haverá dificuldades para a aprovação do negócio em caráter prioritário, já que a operação é vista com bons olhos no governo. O BNDES não se pronuncia oficialmente sobre o assunto, mas sua justificativa vem da preocupação do governo com a ameaça de desnacionalização do varejo no Brasil, principalmente o de alimentos, com a perspectiva de o grupo francês Casino assumir o controle da empresa de Abílio Diniz em 2012.

O negócio com o Carrefour manteria o empresário brasileiro à frente da maior varejista do País e ainda impediria os franceses de buscar abrigo no americano Walmart. A união entre Carrefour e Walmart, cujas especulações existem desde 2009, formaria uma empresa de varejo ainda maior que o Pão de Açúcar. Essa ameaça é temida pelo governo.

A nota do BNDES destacou que o apoio a "internacionalização do Pão de Açúcar" ajudaria o grupo a conquistar um "espaço estratégico" no Carrefour, "abrindo caminho para maior inserção de produtos brasileiros no mercado internacional".

O BNDES vê com bons olhos o arrojo empresarial de Diniz, que deixou transparecer aos dirigentes do banco seu arrependimento em ter assinado o contrato que previa a transferência do controle da empresa para o Casino em 2012.

Para o BNDES, o controle francês do Pão de Açúcar poderia fazer retroceder a política de produtos próprios da rede (como a linha Qualitá) e aumentar o volume de importados.

Diniz tem uma relação antiga com o BNDES, que em 2007 aprovou R$ 187,3 milhões em crédito para a abertura de 15 lojas do Grupo Pão de Açúcar e a reforma de outras 122. Em 2009, a varejista obteve um limite de crédito de R$ 900 milhões do BNDES, do qual teria feito uso reduzido.

Embora a adesão do BNDES à proposta tenha sido costurada por Diniz,o líder do BTG Pactual, André Esteves, também conversou com o banco, dizem envolvidos. Foi a Gama, empresa de propósito específico criada pelo BTG, que pediu oficialmente o apoio ao braço de participações do banco, a BNDESpar.

"O BNDES fornece recursos para todos os grupos privados que necessitam no Brasil. O Ministério da Fazenda não fica fiscalizando a liberação de dinheiro", disse ontem o titular da pasta, Guido Mantega.

Lideranças do PSDB no Senado criticaram ontem o negócio. "Duas redes de varejo se casam e quem dá o presente é o Brasil, ou melhor, o contribuinte?", questionou o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP)./ COLABOROU ANDREA JUBBÉ VIANNA