Título: Executiva da iniciativa privada e política moderna
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2011, Economia, p. B13

Christine Lagarde, recém-eleita diretora-gerente do FMI

Em novembro de 2008, Christine Lagarde, ministra da Economia da França, recebeu jornalistas em seu gabinete, em Bercy, sudeste de Paris. A razão da conversa era discutir a visita de Nicolas Sarkozy ao Brasil. Nas duas horas de diálogo, assuntos sérios, como a instabilidade econômica, se alternaram com temas amenos, como a qualidade dos restaurantes japoneses em São Paulo.

Em meio a tantas pautas, um tema surgiu com força: a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI). Então, Lagarde recorreu a uma expressão irlandesa para responder sobre as aspirações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por mais poder na instituição. "Who pays the piper calls the tune", disse ela. Ou seja: "Quem paga o gaiteiro escolhe a música".

Não há melhor explicação para a eleição de Christine Lagarde ao posto de diretor-gerente do FMI. No fundo, exerce o poder quem paga a conta. E quem paga a conta hoje são os EUA e a Europa - responsáveis por 58% da fatura do FMI.

Nascida em Paris em 1.º de janeiro de 1956, a executiva é a face de uma geração de políticos mais moderna. Advogada, construiu sua fama na iniciativa privada e chega no auge do seu percurso público como primeira mulher a assumir uma instituição internacional de porte no mundo das finanças. E isso após exercer os postos de ministra do Comércio Exterior, entre 2005 e 2007, e da Economia a partir do mesmo ano, já sob a gestão de Sarkozy.

Lagarde faz a França atravessar sem maiores sobressaltos a crise internacional, aberta em 2008 com a quebra do Lehman Brothers. Em Bruxelas, sua fama de gestora se consolidou com a eclosão da crise das dívidas soberanas da Grécia, da Irlanda e de Portugal, gerenciada em parceria com o FMI. Ela também pode ser convocada pela Justiça para dar explicações sobre o acordo alcançado em 2008, após uma briga entre o empresário Bernard Tapie e o Estado francês pela venda do grupo Adidas, em 1993. Ela é acusada de abuso de poder.