Título: Morre Paulo Renato Souza, aos 65 anos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2011, Nacional, p. A7

Ex-ministro da Educação no governo FHC sofreu enfarte em hotel em São Roque; corpo será enterrado na manhã de hoje, em São Paulo

Morreu na noite de sábado, aos 65 anos, o economista gaúcho Paulo Renato Souza, ex-ministro da Educação no governo Fernando Henrique Cardoso. Ele passava o feriado com familiares em um hotel em São Roque (SP) quando sofreu um enfarte. O corpo começou a ser velado na manhã de ontem, na Assembleia Legislativa, e será enterrado hoje, às 10 horas, no Cemitério do Morumbi, zona sul de São Paulo.

Segundo a assessoria de Paulo Renato, ele vinha enfrentando problemas cardíacos. Depois de sofrer o enfarte, o ex-ministro chegou a ser levado ao hospital, mas não houve tempo de socorrê-lo.

Nascido em Porto Alegre em 10 de setembro de 1945, Paulo Renato formou-se em economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Fez mestrado na Universidade do Chile e doutorado na Unicamp - onde foi professor titular e reitor, entre 1987 e 1991.

Paulo Renato foi um dos fundadores do PSDB, em 1988, e ocupou cargos públicos tanto no Brasil como no exterior. Além de ministro da Educação nos oito anos do governo FHC, foi eleito deputado federal em 2006 e licenciou-se do mandato em março de 2009 para assumir pela segunda vez a Secretaria Estadual da Educação - havia ocupado o posto no governo Franco Montoro, entre 1984 e 1986.

À frente do Ministério da Educação (MEC), Paulo Renato ganhou reconhecimento pela criação do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) e do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef) e reformulação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb). A repercussão desse trabalho fez com que surgisse no tucano o sonho de suceder o então presidente Fernando Henrique Cardoso.

Fora do Brasil, foi gerente de Operações do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington. Nos anos 70, trabalhou na Organização Internacional do Trabalho (OIT) como diretor-associado do Programa Regional do Emprego para América Latina e o Caribe, e em outras agências da ONU.

Políticos de diversos partidos e profissionais da educação foram ontem à Assembleia homenagear o ex-ministro. Paulo Renato deixa três filhos - as duas filhas moram fora do País e embarcaram ontem para o Brasil, para acompanhar o enterro - e seis netos.

Paulo Renato Neto disse ontem que o pai morreu "de forma serena, completamente indolor", e que vivia "num momento de vida em que estava muito feliz". "Foi um grande amigo e a pessoa com quem aprendi valores como lealdade e sinceridade. Estou muito triste e ao mesmo tempo feliz por ter herdado esses valores e poder passá-los para os meus filhos."

DEPOIMENTO

Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República

"No Chile, ele trabalhava na OIT e tínhamos uma relação muito boa, mas a relação aumentou mesmo aqui no Brasil quando voltamos, no MDB, no PMDB.

Ele foi realmente quem coordenou meu programa de campanha. Ele sabia liderar, agregar, tinha generosidade, não era mesquinho nem ficava disputando com subordinados. Foi um grande ministro e inovou a Educação brasileira.

O Paulo era maleável, sempre foi mais flexível que turrão. Era de um bom humor enorme e uma pessoa boa. Foi uma personalidade marcante. O meu governo deve muito a ele."

Ouça o depoimento de FHC em politica.estadao.com.br.

REPERCUSSÃO

Dilma Rousseff Presidente da República

"Recebi com pesar a notícia. Economista, ex-reitor da Unicamp e ex-vice presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Paulo Renato prestou relevantes serviços ao País"

Geraldo Alckmin Governador de São Paulo

"Uma grande perda. Grande responsável pela universalização do acesso ao ensino fundamental com a criação do Fundef. Tem uma enorme contribuição a educação brasileira"

Fernando Haddad Ministro da Educação

"O Brasil perdeu um homem público comprometido com a causa educacional. Eu perdi um amigo. Uma pessoa que deu uma contribuição valiosa para a educação brasileira"

Maria Helena Guimarães Ex-secretária da Educação

"Tenho orgulho de ter transmitido o cargo de secretária estadual de Educação para ele"

Cristovam Buarque Senador (PDT-DF), ex-ministro da Educação

"O Brasil perde uma grande figura, um grande técnico, um homem público especial. Tenho um débito de gratidão com ele, que pegou o Bolsa Escola, que eu havia criado no Distrito Federal, e implantou em todo o Brasil, sem mudar o nome"