Título: Venezuelanos ficam na expectativa sobre estado de presidente
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2011, Internacional, p. A14

A cirurgia e a permanência do presidente venezuelano, Hugo Chávez, em Cuba têm alimentado especulações de que sua saúde pode estar pior do que o governo admite. As versões variam de Chávez ter câncer a estar deliberadamente acirrando o mistério para preparar uma volta triunfante. Eis alguns cenários:

Se Chávez estiver gravemente doente. Desde que Chávez, de 56 anos, foi submetido a uma cirurgia em Havana, no dia 10, circulam rumores de que ele sofre de um câncer de próstata. Se ele ficar incapacitado ou morrer, seu vice-presidente Elias Jaua deve assumir pelo restante do mandato. Uma eleição presidencial ocorrerá no fim de 2012 e o vencedor começará um novo mandato em janeiro de 2013. Na prática, quase certamente haveria um caos no país, já que não há, com certeza, um sucessor óbvio à espera nos bastidores.

Muitos analistas veem o "socialismo do século 21" da Venezuela como inextricavelmente ligado à persona de Chávez e, por isso, naufragaria com ele. As implicações disso iriam muito além da Venezuela, que integra a Opep e ampara Cuba e outros países da América Central e do Caribe com suprimentos baratos de petróleo.

O fator de risco associado a Chávez, que nacionalizou grandes porções da economia venezuelana, pesa fortemente nos títulos públicos e, com ele fora de cena, os preços, provavelmente, tenderiam a subir - embora a incerteza durante um vácuo de pudesse provocar muita volatilidade.

Se o presidente se recuperar rapidamente. Autoridades do alto escalão do governo estão zombando do furor em torno da saúde de Chávez, dizendo que ele revela a penúria moral de seus inimigos na mídia e nos círculos políticos de direita. Eles se aferram à versão oficial de que Chávez está se recuperando da extração de um doloroso abscesso em sua pélvis. Vários aliados rejeitaram os rumores sobre câncer.

Embora a falta de detalhes sobre a condição de Chávez tenha alimentado a teoria de que ele está gravemente enfermo, poderia haver uma explicação mais simples - que ele está simplesmente evitando aparecer debilitado em público.

Uma teoria que vem ganhando força em muitos círculos é a de que o governo está deliberadamente mantendo silêncio, não para ocultar uma doença terrível, mas para alimentar especulações que reforçarão o senso de triunfo quando Chávez voltar. O caso também desviou a atenção dos problemas domésticos, como apagões de eletricidade, a criminalidade, as revoltas em prisões e a escassez de alguns produtos.

Se Chávez sair debilitado. A continuidade do governo com um Chávez enfraquecido, padecendo de algum problema de saúde, é possivelmente o cenário mais arriscado. A perda da aura de invencibilidade de Chávez encorajaria manobras pela sucessão dentro de seu partido, que já esta rachado entre linhas-duras e pragmáticos. A oposição também pode ser encorajada a aumentar a pressão pela saída de Chávez, aumentando suas chances nas eleições do ano que vem. O favorito para vencer a nomeação da oposição é um governador estadual de 38 anos chamado Henrique Capriles Radonski. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK