Título: Fornecedor teme ser esmagado pela fusão
Autor: Otta, Lu Aiko
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2011, Economia, p. B15

Consumidores e sindicatos também estão apreensivos com a união das varejistas

Mesmo sem ter sido concretizada, a união entre Pão de Açúcar e Carrefour no Brasil já começa a mobilizar fornecedores, órgãos de defesa do consumidor e sindicatos. Do lado dos consumidores, há o risco de que a megafusão encareça produtos nas prateleiras. Os trabalhadores estão preocupados com o corte de funcionários nas duas redes e a indústria teme perder o poder de barganha nas negociações.

Ontem o assunto dominou a pauta entre compradores e vendedores do varejo, que tentavam prever as consequências do negócio para a indústria e para os concorrentes. "Todos os fornecedores já estão de cabelo em pé. Há uma clara preocupação com o poder de pressão que esse mega varejista poderá exercer", diz uma fonte do setor de alimentos que preferiu não se identificar.

O diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz, acredita que, com a megafusão, os contratos comerciais serão cada vez mais difíceis de serem cumpridos pelos fornecedores. "O que se teme é o efeito de desigualdade de negociação, fazendo com que principalmente pequenas e médias empresas se tornem inviáveis como fornecedoras das grandes redes. "

As negociações do setor com os varejistas, segundo Herszkowicz, já são complicadas. "Os contratos apresentam diversos níveis de exigências." Um exemplo disso é o chamado "enxoval" - mercadorias fornecidas gratuitamente para a inauguração de novas lojas. "Os grandes compradores vão espremer quem tem menos força", diz o professor da Fundação Getúlio Vargas e ex-conselheiro do Cade, Arthur Barrionuevo,

Os trabalhadores também estão apreensivos com os efeitos da megafusão. Ricardo Patah, presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo e da União Geral dos Trabalhadores (UGT), conta que pediu um encontro com os presidentes das duas empresas, Abilio Diniz (Pão de Açúcar) e Luiz Fazzio (Carrefour) para evitar demissões. Só na cidade de São Paulo, as duas empresas têm cerca de 7 mil trabalhadores nos escritórios centrais, sem contar as lojas, e Patah teme que ocorram demissões. No Brasil, as duas varejistas juntas teriam mais de 200 mil empregados.

Na prateleira. Depois de funcionários e fornecedores, os últimos a sentirem os reflexos da criação da mega varejista serão os consumidores. "Com o mercado reduzido, restarão poucas opções ao consumidor e o preço não vai beneficiá-lo", diz a presidente do Proteste, Maria Inês Dolci. "Estamos aguardando uma definição para tomarmos uma providência", disse a presidente Proteste, Maria Inês Dolci. O gerente de informação do Idec, Carlos Thadeu de Oliveira também alerta para uma possível elevação de preços. "As margens de negociação entre fabricantes e comércio ficarão mais estreitas." / COM AGÊNCIA ESTADO