Título: Caos na saúde pública afeta pacientes comuns
Autor: Lameirinhas, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/07/2011, Internacional, p. A14

Greve em hospitais deixa cidadãos sem atendimento em vários Estados e, nas filas, opção de Chávez por atendimento médico em Cuba é criticada

Uma paralisação por tempo indeterminado complicava nos últimos dias a já precária situação da saúde pública na Venezuela. Na frente do Hospital Vargas, em Caracas, doentes sem atendimento lembravam o fato de o presidente venezuelano, Hugo Chávez, estar tratando de seu câncer em algum hospital de ponta de Havana, enquanto uma tomografia na rede pública poderia demorar até três meses.

Carlos Garcia Rawlins/ReutersImproviso. Venezuelanos esperam atendimento em corredor Médicos e outros profissionais da saúde cruzaram os braços para reivindicar melhores salários (os mais altos não passam de 8 mil bolívares fortes, pouco mais de R$ 3 mil) e condições de trabalho.

"Falta de tudo aqui, de leitos para internações a medicamentos simples", disse ao Estado a dona de casa Lina Flores, que há duas semanas tenta fazer um exame de ecocardiograma. "Como não temos dinheiro para pagar um plano de saúde privado, temos de nos submeter a isso."

Antes uma das vitrines entre os programas sociais de Chávez, o Missão Bairro Adentro - que instalou médicos cubanos nas favelas e bairros mais pobres de Caracas para praticarem medicina preventiva - tem hoje sua imagem afetada.

"Os médicos cubanos que vêm para os bairros procuram apenas uma chance para ir a outro país e livrar-se de Cuba", diz Gilberto Tamayo, que busca tratamento para diabetes. "Eles (os cubanos) parecem acreditar que são capazes de curar qualquer doença com um comprimido de aspirina. É tudo o que eles têm no ambulatório e a única coisa que prescrevem."

A greve da saúde pública parou ainda hospitais em todo o país e sua repercussão ganhou grande espaço de divulgação na emissora de TV Globovisión, a mais crítica a Chávez.

Em Nueva Esparta, na Ilha Margarita, cerca de 500 médicos que prestam serviços para o Ministério da Saúde somaram-se aos protestos. Em declarações pela TV, José Antonio Narváez, presidente do sindicato dos trabalhadores da Saúde no Estado, disse que o chamado à greve tinha sido acatado em quase todos os hospitais da ilha e pelo menos cinco cirurgias eletivas tinham sido suspensas só no Hospital Central Luis Ortega.

Em quase todos os Estados, os hospitais só atendiam casos de emergência e partos. Em Táchira, no sudoeste do país, os grevistas organizaram um piquete perto da entrada do Hospital Central Universitário José María Vargas de San Cristóbal.

Parentes dos pacientes se juntaram ao protesto. "Eles se esforçam para estudar e nós nos beneficiamos desse conhecimento. Mas, sem material e com os salários que recebem, o que podem fazer?", questionou um paciente.