Título: Fusão Pão de Açúcar-Carrefour vai concentrar 69% das vendas em SP
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/07/2011, Economia, p. B1

Fornecedores do varejo estão preocupados com a perda de poder de barganha na hora de vender seus produtos se o novo grupo vingar

Se a proposta de fusão entre a operação brasileira do Carrefour e o Grupo Pão de Açúcar for concretizada, as gigantes do varejo terão 69% das vendas no Estado de São Paulo. Apesar do que diz Abilio Diniz (ver pág. 4), isso significa que as duas empresas podem atingir no principal mercado consumidor do País uma concentração que é mais que o dobro que elas juntas terão nacionalmente (32%).

Os cálculos foram feitos por analistas de varejo com base em dados de 2010 do setor, apurados pela Nielsen para a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e projeções de mercado. Em 2010, a receita nacional do setor de supermercados somou R$ 201,6 bilhões, segundo a Abras. As vendas no Estado de São Paulo atingiram R$ 61,3 bilhões. Pão de Açúcar e Carrefour juntos faturaram nacionalmente R$ 65,1 bilhões e, no Estado de São Paulo, R$ 42,6 bilhões.

A forte concentração de mercado no Estado, que é o parâmetro das negociações para o restante do País, já tira o sono dos fornecedores, preocupados com a perda de poder de barganha, caso se forme esse mega varejista. Também os trabalhadores temem o corte no emprego, especialmente de setores nos quais será possível obter uma grande economia de custos, como logística e administração.

Na semana passada, quando tornou-se pública a proposta de união das duas empresas, um dos pontos ressaltados foi a economia de custos do negócio, que pode chegar a R$ 1,8 bilhão.

"Todas as indústrias estão preocupadas, até as grandes", afirma uma fonte do setor que prefere o anonimato. O temor dos fabricantes é a perda de força nas negociações, que envolve mais descontos nos preços, exigência de verbas maiores para marketing, por exemplo, e até redução dos volumes vendidos.

"Nenhuma fusão amplia o faturamento", diz a fonte. Normalmente há uma redução de vendas da ordem de 5%, quando as empresas se unem. Isso porque muitos pontos de venda são fechados em razão da sobreposição de lojas. Além disso, com uma gigante dominando o mercado, as ofertas arrasadoras para capturar novos clientes e ampliar vendas tendem a diminuir.

Entre os setores que podem ser mais afetados com a união das duas empresas estão aqueles nos quais há inúmeros fabricantes, como o de massas alimentícias. De acordo com outra fonte do setor, apesar de estarem também apreensivas, as gigantes da indústria estão, de certa forma, mais protegidas contra o maior poder de barganha do varejo. "Ninguém vai querer ficar sem uma marca de peso como Sadia ou Perdigão em sua rede", exemplifica. Por sua vez, há fornecedores, como frigoríficos menores, que têm 70% das vendas concentradas nas duas redes.

Tom. Apesar de a indústria estar apreensiva com o que pode ocorrer se a fusão se concretizar, há uma certeza de que o tom das conversas será mais amigável se prevalecer a cultura do Pão de Açúcar. "Ele é mais flexível, é mais amiguinho. Isso não significa que a negociação será mais branda", diz um fornecedor.

De toda forma, as indústrias não têm muito para onde correr, no Estado de São Paulo, onde a concentração será muito forte. O Walmart, terceiro do setor com vendas de R$ 22,3 bilhões, está focado no Nordeste e Sul do País e sua participação no Sudeste tem peso menor.