Título: Aliados da megafusão preparam defesa
Autor: Rocha, Marco Antonio
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2011, Economia, p. B2

Interessados na fusão Carrefour-Pão de Açúcar já iniciaram contatos com o Cade

Apesar da ferrenha resistência do sócio Casino ao negócio, os interessados na megafusão entre Pão de Açúcar e Carrefour já começam a traçar sua estratégia para tentar aprovar a operação no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

A linha central da argumentação é convencer os órgãos de defesa da concorrência que as concentrações excessivas de mercado estão restritas a poucos municípios. As empresas, porém, estão cientes que a megafusão no varejo é "delicada" e que vai exigir concessões.

Os contatos com as autoridades já começaram. Na semana passada, representantes dos investidores que querem a fusão conversaram com o Cade, com a Secretaria de Direito Econômico (ministério da Justiça) e com a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Fazenda).

As conversas, por enquanto, são para informar que o negócio ainda está em fase de análise pelos sócios e que deve ser comunicado ao Cade assim que for concluído. Ainda não houve troca de informações sobre a operação.

Segundo consultorias envolvidas no processo, as empresas reconhecem que, provavelmente, será necessário assinar um Acordo de Preservação da Reversibilidade da Operação (Apro) com o Cade - um instrumento jurídico que mantenha as empresas separadas enquanto o governo faz a análise do negócio.

Concentração. Os cálculos preliminares feitos pelas consultorias apontam que Pão de Açúcar e Carrefour estão presentes, ao mesmo tempo, em 70 dos 180 municípios onde atuam. Em apenas 25, a concentração seria "significativa", ou acima de 50%. O Cade, no entanto, já considerou preocupante concentrações acima de 20% a 30%.

Um dos focos de atenção será São Paulo. No anúncio do negócio na semana passada, Cláudio Galeazzi, sócio do BTG Pactual (um dos investidores), afirmou que a concentração é elevada na cidade e pode exigir "desinvestimentos" - ou seja, venda de lojas.

Em matéria publicada no domingo, o Estado mostrou que a empresa resultante da fusão teria 69% das vendas no Estado de São Paulo. Fontes próximas aos investidores consideram o número "superestimado", mas não apresentam outro dado.

Segundo essas fontes, para a análise concorrencial, o que vai interessar é a concentração em cada "região" ou "bairro". As fontes admitiram, no entanto, que o fato de que as empresas representam só 32% do mercado nacionalmente também é pouco representativo.

Outro argumento estratégico da defesa é apontar a importância de varejistas regionais, como Zona Sul (Rio de Janeiro), Bretas (Minas) e Záfari (Rio Grande do Sul). O objetivo é demonstrar que a concorrência não se restringe a Pão de Açúcar, Carrefour e Wal-Mart. "Essa não é uma operação de dois players que se unem contra um terceiro", disse uma fonte.

Os dados iniciais também apontam que a participação do megavarejista Pão de Açúcar-Carrefour é pequena nas vendas de grandes fornecedores. A nova empresa representaria, por exemplo, menos de 3% das vendas da Ambev e menos de 7% das vendas da Nestlé. Não foram apresentados dados, no entanto, sobre a participação nas vendas de empresas menores.

Toda essa estratégia de convencimento das autoridades pode ser infrutífera se os investidores não conseguirem convencer o sócio Casino a aceitar o negócio. O grupo francês alega que o acordo de acionistas obrigava o Pão de Açúcar a comunicar sobre as negociações.

Esclarecimento. Segundo a assessoria de imprensa do Pão de Açúcar, "não há qualquer disposição no acordo de acionistas que obrigue as partes (Casino ou Abilio) a solicitar que o outro sócio acompanhe negociações e oportunidades de negócios para o Pão de Açúcar. Quando este acionista recebe proposta formal, aí sim deve submetê-la ao outro sócio.

O artigo mencionado em arte publicada pelo Estado no domingo diz respeito à obrigação de chamar o outro sócio em oportunidades fora do varejo alimentício, o que não é o caso. A obrigação de não competição, citada pelo Casino, apenas justifica e corrobora nossa tese de que não há nada ilegal, uma vez que Abilio está levando a proposta que envolve o Carrefour para análise de seu sócio, não gerando qualquer quebra de contrato, nem tampouco gerando competição."

A POSIÇÃO DE CADA UM

Abilio Diniz, presidente do Conselho do Pão de Açúcar

Articulou a proposta de fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour. Afirma que essa é uma maneira de melhorar a estrutura de capital do Pão de Açúcar, para que a empresa continue a crescer. Acusado pelo Casino, seu sócio francês, de ter negociado com o Carrefour na surdina, diz que não falou nada antes pois não tinha o que mostrar.

Jean-Charles Naouri, presidente do Casino

Em 2005 comprou o controle do Pão de Açúcar, que, por contrato, deve assumir em junho de 2012. Naouri acredita que Abilio articulou o projeto de fusão com o Carrefour, sem o seu conhecimento, para não entregar o controle do Pão de Açúcar e continuar no comando da eventual nova empresa juntamente com o Casino, como acontece hoje.