Título: Presente de grego para o Brasil
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/06/2011, Economia, p. B6

Em 2011, Bovespa cai mais que Bolsa de Atenas

Um país está à beira do colapso de suas finanças públicas e o outro acaba de receber uma melhora na nota de classificação de risco de crédito, dentro do chamado grau de investimento. No entanto, as bolsas de valores dessas duas nações parecem viver em universos diferentes.

Enquanto o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) acumula perdas de 11,7% no ano, sem ainda se beneficiar da avaliação de ambiente ainda mais seguro no Brasil para os investidores globais, o principal indicador da Bolsa de Atenas (conhecido pela sigla ASE) registra queda de cerca de 10%.

Há de se fazer a ressalva de que o desempenho dos dois termômetros do mercado de ações tem sido bem distinto desde o estouro da crise global, em setembro de 2008. Naquele momento, o Ibovespa estava em 61 mil pontos, nível semelhante ao atual. No caso da bolsa grega, o ASE perdeu quase 63% no mesmo intervalo.

Ainda assim, o economista da Senso Corretora, Antônio César Amarante, avalia que o fato é no mínimo hilário e denota a falta de congruência dos mercados no atual momento da economia global. Ele aponta, entre as razões para explicar a discrepância no desempenho das bolsas brasileira e grega, a concorrência "desleal" da renda variável com a renda fixa doméstica. Além disso, cita a escassez de dinheiro novo rumo às ações nacionais - reféns das negociações de curto prazo.

Amarante diz ainda que os principais países emergentes vivem à sombra de um cenário incerto sobre inflação e juros, com os bancos centrais do Brasil e da China, por exemplo, ainda se vendo obrigados a apertar suas políticas monetárias. Enquanto isso, economias maduras, como Estados Unidos, Japão e países da zona do euro, mantêm as taxas em níveis extremamente baixos.

Em outra avaliação, o chefe da mesa de renda variável de uma corretora paulista afirma que os esforços das autoridades europeias em evitar um calote desordenado na Grécia, impedindo um contágio nas demais economias da periferia europeia, podem justificar o desempenho menos negativo da Bolsa de Atenas, em relação à Bovespa. "É o prêmio do risco", ironiza.

Na noite de terça-feira, o recém-reformulado gabinete de governo do primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, obteve uma vitória apertada no Parlamento para tentar resgatar a debilitada situação fiscal e econômica do país. Agora, as autoridades deverão votar as reformas econômicas para o país conseguir a liberação de recursos da linha de empréstimo concedida pela União Europeia (UE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Já o Brasil recebeu, segunda-feira, a notícia de elevação da classificação de risco de crédito pela agência Moody"s, com o rating (classificação de risco de crédito) soberano passando de Baa3 para Baa2.