Título: Casino questiona necessidade de capitalização pelo BNDES
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2011, Economia, p. B1

Nos seus comunicados oficiais, o Casino vem questionando de forma contundente o comportamento de seu sócio brasileiro e a legalidade da fusão proposta na semana passada. Mas se ele gostou ou não do negócio do ponto de vista econômico, ainda é uma incógnita. Segundo o "Estado" apurou, ainda não há uma opinião clara. Por enquanto, o grupo francês, que reclama de ter sido privado das discussões, diz ter mais dúvidas do que certezas sobre a operação.

O principal questionamento é a necessidade de participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do banco BTG Pactual no financiamento da operação. Na visão dos franceses, os acionistas do Pão de Açúcar, incluindo o próprio Casino, poderiam subscrever um aumento de capital de 2 bilhões, equivalente ao aporte dos dois bancos.

Outro ponto de interrogação, segundo pessoas próximas ao Casino, é o papel da holding Gama, formada pelos acionistas originais do Pão de Açúcar (Abilio e Casino), além de BNDESPar e BTG Pactual. Pela proposta anunciada, essa holding deterá 11,7% do Carrefour na França e 50% das operações de Pão de Açúcar e Carrefour no Brasil. O Carrefour, por sua vez, será dono da outra metade dessa empresa. A partir de 2013, no entanto, o Carrefour terá voto de minerva em decisões estratégicas, como aquisições e distribuição de dividendos, na nova empresa. "A Gama passa a ser apenas uma holding financeira ou terá preponderância na gestão dessa nova empresa em algumas situações?", questiona uma fonte.

Sentido. Na visão do Casino, essa operação só faria sentido para Abilio Diniz se ele pudesse se juntar com os fundos Blue Capital e Colony (acionistas do Carrefour) para dar as cartas na segunda maior cadeia de varejo do mundo. Segundo outra fonte, não parece boa estratégia deixar de ser acionista de empresa (Pão de Açúcar) capitalizada, em pleno crescimento e focada no mercado brasileiro para se tornar sócio de uma holding que compartilha com o Carrefour o controle da nova empresa.

"O Carrefour possui uma agenda global, em que o Brasil tem uma menor importância relativa, o que pode resultar em desalinhamento de objetivos estratégicos. Além disso, o Carrefour tem encontrado dificuldade em seus principais mercados, como a França, e tem sido pressionado pelos acionistas pelo baixo desempenho e pela falta de uma estratégia clara", explica a fonte.