Título: Grupo entra com novo pedido de arbitragem
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2011, Economia, p. B1

Casino abre segundo processo contra o Pão de Açúcar, enquanto o Conselho de Administração do Carrefour se diz favorável à fusão

O varejista francês Casino entrou ontem com um segundo pedido de arbitragem contra o Pão de Açúcar na Câmara Internacional de Comércio, em Paris. A arbitragem internacional funciona como um instrumento de pressão, porque o governo brasileiro não quer passar a imagem de um País que não cumpre contratos.

Os dois sócios estão em guerra desde que o empresário Abilio Diniz começou a articular a fusão da Companhia Brasileira de Distribuição (CBD), dona do Pão de Açúcar, com as operações do Carrefour no Brasil. O BNDES sinalizou que pode injetar até R$ 4,5 bilhões para viabilizar a fusão, mas recuou e disse que o negócio só sai se houver acordo entre Casino e Diniz.

No fim de maio, antes do negócio ser confirmado, o Casino já havia iniciado o primeiro processo em Paris para tentar interromper a conversa entre Abílio e Carrefour. O Casino chegou a conseguir que a Justiça francesa apreendesse documentos sobre a negociação.

Segundo fontes próximas ao sócio francês, o objetivo do novo pedido de arbitragem é impedir a CBD de discutir internamente a fusão com o Carrefour. A CBD deve convocar em breve seus conselhos fiscal e jurídico para deliberar sobre o negócio. É provável que isso ocorra antes da reunião do Conselho de Administração da holding, a Wilkes, na qual o Casino tem 50% das ações. É isso que os sócios franceses querem evitar.

Ontem à noite, Abilio Diniz, que preside a Wilkes, marcou a reunião do Conselho de Administração para 2 de agosto. Segundo fontes ligadas a Abilio, o prazo é necessário porque se trata de uma operação "complexa". Na terça-feira passada, quando a proposta de fusão foi anunciada, o Casino solicitou essa reunião.

Em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Pão de Açúcar informou que o Casino enviou correspondência sobre o segundo pedido de arbitragem, mas que ainda não foi comunicado oficialmente pela corte. Segundo fontes ligadas à empresa de Abilio Diniz, é normal convocar o Conselho Fiscal da CBD, mesmo antes da reunião da Wilkes.

Carrefour. O Carrefour anunciou ontem que seu Conselho de Administração aprovou o negócio, se a proposta for aceita pela CBD. Para a gigante varejista francesa, a operação "cria valor" para as empresas envolvidas e para os seus acionistas e "aumenta significativamente a exposição do Carrefour aos mercados emergentes". O Carrefour ressaltou ainda que acredita que "méritos do projeto vão favorecer o consenso".

O Casino reagiu com a publicação de uma nota. O grupo disse que o Carrefour, seu maior concorrente no mercado francês, "pode ser responsabilizado" por dar seu aval a uma "transação hostil" que surgiu de "negociações ilegais". Segundo uma fonte ligada ao Casino, o Carrefour só deveria ter se manifestado após a deliberação do assunto pela CDB.

Crédito combinado R$ 4,5 bi é o valor limite que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) se comprometeu a entrar inicialmente na operação de fusão dos grupos Pão de Açúcar com o Carrefour e depois recuou