Título: Agência aponta calote seletivo grego
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2011, Economia, p. B8

Standard & Poor"s diz que vai considerar a Grécia nessa situação se os bancos privados participarem da reestruturação da dívida

A agência de classificação de risco Standard & Poor"s anunciou ontem que vai considerar a Grécia em "default seletivo" se os bancos privados europeus participarem da reestruturação da dívida do país.

A iniciativa caiu como chumbo sobre a questão ainda em aberto da concessão de um segundo pacote de socorro, de cerca de 120 bilhões pela União Europeia, Fundo Monetário Internacional (FMI) e setores financeiros francês e alemão. O ministro de Finanças da Grécia, Evangelos Venizelos, esquivou-se de comentar diretamente a decisão da S&P. Porém, advertiu para a necessidade de se manter o "clima de segurança" em torno do conteúdo do acordo firmado no sábado, que permitiu a liberação da quinta parcela do primeiro pacote de ajuda, no valor de 12 bilhões, ainda em julho.

"As duas opções financeiras descritas na proposta da Federação Bancária Francesa (FBF) seriam consideradas como um default, conforme os nossos critérios", informou a S&P, por meio de comunicado à imprensa.

A posição da agência desnudou o fato de as propostas de rolagem de títulos da dívida grega com vencimento até 2014 serem, na verdade, projetos de reestruturação do débito pelo setor privado. A primeira sugestão da FBF prevê o prolongamento dos prazos de reembolso de 70% dos títulos públicos gregos detidos pelos bancos franceses. A segunda alternativa envolveria o reinvestimento de 90% do valor dos reembolsos gregos com títulos de cinco anos.

A Standard & Poor"s não emitiu opinião sobre a proposta da Alemanha de permitir novos empréstimos de seus bancos para a Grécia, no limite de 3,2 bilhões, de forma a cobrir os títulos gregos com vencimento em 2014.

Se prevalecer qualquer das duas ofertas francesas, segundo a agência, a Grécia estaria em situação de "descumprimento" de seus compromissos financeiros e em flagrante situação de incapacidade de pagar a dívida contraída. A S&P declararia, então, o default seletivo da Grécia. A posição da agência não difere da avaliação encaminhada por embaixadas estrangeiras em Atenas a seus governos nas últimas semanas. "O mercado privado não aceitará mais os títulos gregos de curto prazo, hoje com 25% de seu valor de face", afirmou um diplomata que acompanha o tema.

Exigências. No último dia 2, os ministros de Finanças da zona do euro concordaram com a liberação de US$ 12 bilhões para a Grécia, para o pagamento de títulos com vencimento neste mês. Trata-se da quinta parcela do acordo firmado em 2010. Porém, os ministros sinalizaram com novas exigências para a futura liberação da sexta parcela e adiaram sua decisão sobre o segundo pacote de ajuda a Atenas. Esse novo socorro daria mais dois anos e meio para o governo grego ajustar suas contas fiscais e emitir sinais mais claros sobre a capacidade de equacionar sua dívida em longo prazo. Para as instituições financeiras europeias também significaria evitar, em 2014, os efeitos de um inevitável default grego em seus balanços.