Título: Tesouro prepara captação externa
Autor: Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2011, Economia, p. B6

Governo aguarda abertura de ""janela de oportunidade"" para fazer 1ª emissão do ano

As condições para uma captação de recursos no mercado externo pelo governo brasileiro melhoraram e o Tesouro Nacional aguarda, nos próximos dias, a abertura de uma "janela de oportunidade" para fazer a primeira emissão de títulos no mercado internacional no ano. A expectativa é que isso ocorra antes do período de férias no Hemisfério Norte, em agosto.

Esse movimento é aguardado com ansiedade pelo setor privado brasileiro, que vem batendo recordes de captação no exterior. As empresas querem que o governo emita papéis para estabelecer um novo parâmetro de preços. Elas acreditam que, após duas agências de classificação de risco terem elevado a nota do País este ano, as taxas de juros ficarão mais baixas, o que beneficiaria não só o governo. Todas as captações, mesmo as privadas, tenderiam a tornar-se mais baratas. É comum depois de uma elevação do rating soberano do País, o governo fazer uma captação de referência de preços. Em 2011, o Brasil já recebeu elevação de sua nota de grau de investimento pela Moody"s e Fitch, mas até agora o Tesouro não voltou ao mercado internacional.

Segundo o Estado apurou, não está descartada uma emissão de bônus atrelados ao dólar (Globals), com prazo de vencimento em 10 anos ou 30 anos. Outra possibilidade é uma captação com bônus em reais, o BRL, o preferido do governo. Os técnicos observam que, no caso dos BRL, é necessário um momento mais adequado e há outras complicações, como a necessidade de oferta de uma quantidade maior de papéis. Mas as três opções (Global de 10 anos, de 30 anos ou BRL) estão na mesa. O secretário do Tesouro, Arno Augustin, está avaliando nos últimos dias a melhor das três para dar o sinal verde para a operação.

A avaliação da equipe do ministro da Fazenda, Guido Mantega, é de que, como o Brasil não precisa de dólares, uma emissão externa tem de ser feita não só para reduzir as taxas e melhorar a curva de juros externo dos papéis brasileiros. Deve também fazer sentido do ponto de vista de planejamento estratégico da dívida externa. Ou seja, não vale a pena fazer a emissão se não for para reduzir bastante o custo.

Apesar da pressão do setor privado, o governo pode esperar o momento ideal para a emissão. Os técnicos observam que as reservas estão elevadas, a compra de dólares para honrar compromissos de dívida externa está adiantada em 1,5 mil dias e não há problemas de endividamento de curto prazo. Assim, não há razão para precipitações.

O governo não quer correr o risco de fazer uma captação num dia ruim e ter que pagar taxas de juros maiores do que a de emissões anteriores. Como o mercado externo está muito instável, uma má notícia, mesmo que não relacionada ao Brasil, pode azedar o humor do mercado e prejudicar o resultado da operação. Isso porque nesses momentos aumenta a aversão ao risco dos investidores. Foi o que ocorreu ontem depois que a agência de classificação de risco Moody"s rebaixou a nota de Portugal em quatro pontos, para o nível especulativo. É um dado a ser levado em conta, mas ontem os preparativos para uma eventual emissão seguiam normalmente.

A última vez que o Tesouro vendeu um papel no exterior foi em outubro do ano passado, quando foram ofertados BRLs com prazo de vencimento em 2028.