Título: Moody's rebaixa rating de Portugal
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2011, Economia, p. B9

Nota da dívida pública portuguesa passou de grau de investimento para especulativo

LONDRES

A Moody"s Investors Service é a primeira das três grandes agências de classificação de risco de crédito a rebaixar o rating da dívida pública de Portugal de grau de investimento para grau especulativo (junk).

A nota do país passou de Baa1 (qualidade de crédito boa) para Ba2 (grau especulativo) - um decréscimo de quatro níveis -, com perspectiva negativa para o novo rating. A classificação da dívida de curto prazo de Portugal também foi rebaixada - para "(P) Not Prime", de "(P) Prime-2".

O gabinete do ministro de Finanças de Portugal, Vítor Gaspar, reagiu e disse em um comunicado que a Moody"s, ao rebaixar o rating de crédito do país para o território especulativo (junk), ignora algumas das medidas adotadas pelo governo para reduzir o déficit orçamentário.

Segundo o texto, a decisão não leva em conta os potenciais efeitos de um imposto que repassará aos cofres públicos o equivalente a 50% do décimo terceiro salário dos portugueses neste ano. "Esta medida constitui a prova da determinação do governo em garantir os objetivos do déficit para este ano, incluindo medidas que não estejam previstas nos memorandos de entendimento."

As duas outras maiores agências, Standard & Poor"s e Fitch, classificam Portugal em BBB-, rating que representa o nível mais baixo da categoria de grau de investimento em suas respectivas escalas.

Apesar de ser apenas uma opinião sobre a condição de financiamento de um país, a nota emitida por uma agência de classificação de risco pesa sobre a decisão dos investidores de comprarem títulos públicos e privados.

O fato de a Moody"s colocar o rating em perspectiva negativa dá sinais do que pode acontecer com os títulos soberanos de Portugal em um futuro próximo.

Segundo a agência, os fatores que levaram à decisão são "o risco crescente de que Portugal vá requerer uma segunda rodada de financiamento oficial antes que possa voltar ao mercado privado e a possibilidade crescente de que a participação de credores do setor privado seja requerida como precondição".

Incertezas. A agência também demonstrou preocupação na capacidade de Portugal cumprir totalmente as metas de redução e de estabilização de dívida estabelecidas em seu acordo de crédito com a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Isso porque o país enfrenta dificuldade "na redução dos gastos, na redução da evasão de impostos, na recuperação do crescimento econômico e no apoio ao sistema bancário".

A Moody"s também disse que "embora o rating Ba2 de Portugal indique um risco muito menor de reestruturação do que o rating Caa1 da Grécia, a evolução da postura da UE na direção de prover apoio oficial é um fator importante para Portugal, porque implica um risco crescente de que a participação do setor privado possa se tornar uma precondição para rodadas adicionais de empréstimos oficiais para o país, também no futuro. / DOW JONES NEWSWIRES