Título: Arrocho deve ser relaxado, alertam Bird, ONU e OMC
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2011, Economia, p. B9

Organismos dizem que países ricos permanecerão praticamente estagnados e pedem medidas para a criação de postos de trabalho

O Banco Mundial (Bird), a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Organização das Nações Unidas (ONU) alertam que os países ricos permanecerão praticamente estagnados nos próximos meses e pedem que governos reavaliem suas medidas de austeridade para permitir que pelo menos postos de trabalho sejam criados.

O alerta é feito no momento em que a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) exigem das economias periféricas da Europa um drástico plano de redução da dívida, o que implica em pesados cortes nos gastos e nos investimentos públicos.

"As políticas de austeridade não estão ajudando os cidadãos dos países ricos", afirmou Sha Zukang, subsecretário-geral da ONU. "Há um risco real de uma desaceleração ainda mais profunda da recuperação diante dos pacotes de austeridade", disse o executivo da ONU.

Cortes prematuros. "Não poderíamos ter embarcado em programas de cortes de recursos de forma tão prematura. O desemprego é ainda muito alto e há quem diga que levará cinco anos para voltar aos níveis de 2007", disse o subsecretário-geral da ONU

Para Supachai Panitchpakdi, secretário-geral da Unctad, a recuperação "ainda não está garantida".

Otaviano Canuto, vice-presidente do Banco Mundial, é outro que admite que a "recuperação é frágil". "As perspectivas de crescimento se deterioram", afirmou, apontando que países ricos estão com dívidas "explosivas" e enfrentam a ameaça da insolvência.

"Os países desenvolvidos saíram da crise em uma situação ruim. Existe a possibilidade de que sofram novos choques", afirmou o brasileiro. "Na melhor das hipóteses, podemos esperar uma recuperação apenas lenta", disse.

O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, também vê riscos para a economia mundial e alerta que a manutenção do desemprego em taxas altas pode se traduzir em uma nova onda de pressão protecionista. Segundo ele, a falta de postos de trabalho pode criar "turbulências políticas que teriam repercussões importantes para a economia mundial".

Emergentes. Todas as entidades internacionais, porém, apontam que hoje são os mercados emergentes que estão sendo os motores da recuperação da economia mundial. "Há uma mudança no cenário internacional, com uma transição para os emergentes no que se refere ao crescimento da economia mundial", disse Canuto.

O brasileiro destaca a situação da Ásia e da América Latina e aponta que essas regiões estão cada vez menos dependentes do que ocorre nos países ricos. Para o economista brasileiro, a saúde da economia brasileira está mais dependente da China que da crise grega.

Outro fator tem sido a emergência da classe média nessas regiões, o que permite que esses mercados registrem uma expansão baseada no consumo doméstico, e não nas exportações aos mercados ricos.

Para Canuto, porém, os países emergentes devem aproveitar o momento para fazer as reformas necessárias e investir em infraestrutura. "Não é o momento de cair na euforia", completou vice do banco Mundial.