Título: Brasil é a ''joia da coroa'' para o Casino
Autor: Naouri, Jean-Charles
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2011, Economia, p. B16

Metade do crescimento da multinacional nos próximos anos virá da operação no País

A veemência do presidente do Casino, Jean-Charles Naouri, em lutar contra o enfraquecimento da posição do grupo no Pão de Açúcar tem a estratégia de crescimento da multinacional na última década como pano de fundo. Segundo analistas europeus que acompanham o grupo, 80% do crescimento previsto para o Casino até 2013 virá dos emergentes. O Brasil é a "joia da coroa": deverá responder por metade da expansão do conglomerado.

De acordo com o analista Laurence Hoffmann, da Oddo Securities, o Casino está colhendo o fruto de uma aposta nos países emergentes feita nos últimos 12 anos. A partir de 1999, a rede francesa chegou a países como Brasil, Colômbia, Tailândia e Vietnã, em detrimento de mercados maduros - exatamente a estratégia oposta do Carrefour, que seguiu bastante dependente da Europa Ocidental.

A aposta rendeu frutos: hoje, o Casino tem 54% de participação na líder de mercado na Colômbia, a rede Éxito. Mas a consagração da estratégia "emergente" viria em 2012, quando o conglomerado estaria apto a assumir o controle do maior varejista nacional - o Grupo Pão de Açúcar -, conforme acordo firmado com o empresário Abilio Diniz em 2005.

A complexa operação armada por Diniz para a aquisição de metade das operações do Carrefour no País manteria o Casino como sócio, mas eliminaria a possibilidade de o grupo francês assumir o controle da operação. Em relatório, Hoffman diz que "o Casino deve buscar ações legais para contestar o negócio com base no acordo de acionistas do Grupo Pão de Açúcar". Pelo que tem dito até agora, é justamente isso que Naouri tem em mente.

O analista da Oddo Securities questiona ainda a opção do Pão de Açúcar em fazer negócio com o Carrefour num momento em que o grupo por uma crise de credibilidade que afeta seus resultados. Entre 2010 e 2011, a empresa perdeu 0,6 ponto porcentual de participação no mercado francês, enquanto o Casino ganhou 0,3 ponto no período. Para Hoffmann, a avaliação para as ações do Carrefour segue neutra: "As dificuldades para o fechamento do acordo (no Brasil) parecem muito grandes", diz Hoffmann.

Água fria. Antonia Branston, analista da consultoria Euromonitor, considera a proposta de fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour no Brasil um "balde de água fria" nos planos do Casino. Segundo ela, o grupo escolheu deixar vários mercados ao redor do mundo entre 2005 e 2010- incluindo Lituânia, Holanda, Arábia Saudita, Taiwan e Venezuela - para escolher o Brasil como ponto nevrálgico de sua expansão. "Para dar suporte (à estratégia), o Casino anunciou em maio último que investiria 2 bilhões ao ano no País, com planos de abrir 100 novas lojas ao ano."

Para a analista, caso não surja uma solução amigável para a disputa, é possível que a imagem do Grupo Pão de Açúcar possa ser afetada. "No caso de uma longa batalha judicial, é pouco provável que a posição de mercado da empresa se mantenha inalterada. E isso pode beneficiar o Walmart que, sem ser afetado pela confusão, pode buscar a liderança do setor (no Brasil)."

É consenso de que a mudança no Brasil prejudicará o Casino. Em relatório, o analista Christopher Hogbin, da Bernstein Research, diz que, caso a fusão Pão de Açúcar-Carrefour seja mesmo levada a cabo, o grupo tem a alternativa de negociar sua saída da operação. Ele diz, porém, que a expectativa é que o grupo seja um "negociador renitente" - conforme já ficou provado pelas declarações de seu presidente.