Título: Grécia dá início hoje a plano de austeridade
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2011, Economia, p. B8

Parlamento aprovou ontem lei que dá sinal verde a cortes nos gastos e alta de impostos

O Estado de S.Paulo

CORRESPONDENTE / GENEBRA

A tragédia grega foi ontem temporariamente interrompida. Em Atenas, o Parlamento aprovou a segunda parte da lei de medidas de austeridade, dando sinal verde para a implementação de cortes de salários e altas de impostos. Na Europa, os bancos alemães aceitaram fazer parte do pacote de resgate para a Grécia e não cobrarão, por enquanto, parte da dívida.

Para a União Europeia, a Grécia cumpriu as exigências necessárias para receber uma nova parcela do resgate bilionário. Mas analistas já alertam que a solução é apenas temporária.

Apesar das cenas de violência e da resistência da população grega ao pacote, os deputados ontem aprovaram a lei que implementa as medidas por 155 votos a favor e 136 contra. Um dia antes, o pacote de resgate havia sido aprovado, também por uma margem pequena. Os cortes e novos impostos entram em vigor hoje.

Com a decisão de ontem, a Grécia recebeu garantias da UE de que terá acesso aos 12 bilhões que esperava de Bruxelas e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para poder pagar seus compromissos em julho. Sem esse dinheiro, o país quebraria.

A aprovação também abre espaço para que, no domingo, a UE debata um pacote extra de mais de 110 bilhões. "Em situações muito difíceis, foi um ato de responsabilidade nacional", declarou o presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy.

As medidas preveem reformas no valor de 78 bilhões, dos quais 50 bilhões em privatizações. O restante viria de aumento de impostos e cortes de salários e de gastos com a saúde.

"Agora existem condições para uma decisão sobre o pagamento da próxima parcela da ajuda financeira para a Grécia e para avanços rápidos no segundo plano de resgate", afirmou o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.

Ao mesmo tempo que o Parlamento aprovava as medidas, os bancos alemães chegaram a um acordo com o governo de Berlim e aceitaram rolar 3,2 bilhões em dívidas da Grécia. Na prática, isso dará mais espaço para que os gregos possam tentar recuperar o crescimento, antes começarem a pagar suas dívidas com os bancos alemães.

O acordo será usado como base das negociações entre ministros de Finanças da UE, no domingo, com a meta de aprovar cerca de 110 bilhões a mais para os gregos.

Para especialistas, as medidas anunciadas nos últimos dias em Atenas e em Berlim apenas permitem que a zona do euro ganhe tempo e, no fundo, não resolvem a ameaça de insolvência da Grécia. Para o mercado, o valor da rolagem da dívida grega pelos alemães é "decepcionante". "Não são valores suficientes", afirmou o Royal Bank of Scotland (RBS), em nota. Apesar de aceitarem adiar a cobrança de 3,2 bilhões, os bancos alemães teriam papéis da dívida grega no valor superior a 10 bilhões.

O ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaueble, tentou minimizar a questão dos valores, indicando que o importante era o setor privado ter aceitado participar. Josef Ackermann, CEO do Deutsche Bank, também deu declarações apostando em uma "boa solução para todos". Mas para o RBS, o anúncio alemão foi mais um "doce na boca que um valor que fará uma diferença dramática".

Violência. Em Atenas, ontem foi dia de contabilizar os prejuízos com a violência da véspera. No total, ambulatórios improvisados atenderam a mais de 700 pessoas, muitos feridos pelos enfrentamentos com a polícia e outros sem poder respirar por causa dos efeitos do gás lacrimogêneo. A polícia ainda anunciou a detenção de 43 pessoas

O governo americano ainda emitiu um alerta para que cidadãos dos Estados Unidos evitem a área central da cidade diante do risco de violência.