Título: Thomaz Bastos vai defender Abilio em briga com Casino
Autor: Cançado, Patrícia
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2011, Negócios, p. B13

Advogado, que ainda estuda a causa, afirma que empresário age ""democraticamente"", com o objetivo de prospectar ""bons negócios""

O Estado de S.Paulo

Contratado por Abilio Diniz para defendê-lo na briga de foice contra os franceses do Casino, o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos saiu ontem em defesa do empresário. "Abilio não transgrediu nenhum marco contratual, legal ou ético. O que ele fez foi prospectar bons negócios. Ele está agindo democraticamente."

A referência à democracia é uma resposta a José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça contratado pelo Casino, que um dia antes chamou de "golpe de Estado corporativo" a associação entre Abílio, o banco BTG Pactual e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para promover a fusão do Pão de Açúcar com as operações brasileiras do Carrefour.

O Casino, que ao mesmo tempo é sócio de Abilio no Pão de Açúcar e um rival ferrenho do Carrefour, é contra a fusão. Em comunicado ao mercado, o Casino afirmou que as negociações de Abílio para se aproximar do Carrefour foram feitas "em segredo e de forma ilegal". Segundo o Casino, Abilio não poderia ter negociado com o Carrefour sem o seu conhecimento.

"Abilio é o executivo do grupo. Nessa condição, ele prospecta novos negócios", afirma Thomas Bastos. "Ele não fez nada escondido, é que não tinha nada formalizado para apresentar. Quando teve algo concreto, apresentou aos acionistas."

Amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e conselheiro da presidente Dilma Rousseff, Thomaz Bastos tem entrada franca em vários setores do governo. Foi contratado por Abilio, de quem é amigo e advogado. Agora são dois ex-ministros na briga pelo controle do Pão de Açúcar - Thomaz Bastos, de Lula, e Dias, da gestão Fernando Henrique Cardoso.

Criminalistas, os dois foram chamados para assessorar seus clientes e ajudar organizar os batalhões de advogados que estão sendo arregimentados para a disputa. Thomaz Bastos, na realidade, foi contratado entre terça e quarta-feira - ontem, ele ainda estudava o caso. Foi convencido pelos assessores de Abilio a se manifestar rapidamente para não deixar as provocações de José Carlos Dias sem resposta.

Arbitragem. Já está definido também que o litígio societário entre Abilio e Casino vai correr em um tribunal arbitral de São Paulo, ligado à Câmara Internacional de Arbitragem. Cada lado tem o direito de indicar um juiz e o processo envolve ainda um terceiro árbitro, nomeado com de comum acordo entre os litigantes. O Casino já escolheu um árbitro, mas os advogados de Abilio ainda não definiram um nome.

O caso foi levado à Câmara depois que o Casino descobriu as movimentações de Abílio em direção ao Carrefour. Esta semana, Abilio apresentou a proposta de fusão, feita em nome do BTG Pactual. Na visão do Casino, a operação seria uma manobra de o empresário brasileiro para não entregar o controle do Pão de Açúcar aos franceses no ano que vem - como está definido desde 2005. Abilio afirma que age motivado pelo interesse nacional e afirma que sua intenção é evitar a desnacionalização do sistema de abastecimento brasileiro.