Título: Para a CNI, indústria está desacelerando
Autor: Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2011, Economia, p. B3

Em maio, setor apresentou dados aparentemente contraditórios, com aumento no uso da capacidade instalada e queda nas vendas

O nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) na indústria de transformação voltou a subir em maio, depois de duas quedas sucessivas na comparação com o mês anterior. Por outro lado, o faturamento real e as horas trabalhadas na produção caíram em relação a abril.

Para o economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Marcelo de Ávila, os movimentos aparentemente contraditórios mostram uma desaceleração do setor industrial.

Desde janeiro, todos os indicadores têm alternado movimento de alta e queda mês a mês, dando sinais de um arrefecimento da atividade industrial.

"Não há uma tendência definida de crescimento e, sim, uma tendência de moderação", afirmou Ávila. A CNI considerou o aumento da capacidade instalada muito baixo para se tornar indicativo de retomada de um ciclo de alta. "É um aumento muito baixo e não mostra um cenário de crescimento. Ainda não preocupa."

Segundo os dados divulgados ontem pela confederação, o Nuci subiu de 82,2% em abril para 82,4% em maio, com os ajustes sazonais, mas ficou 0,4 ponto porcentual abaixo de maio de 2010. O faturamento da indústria caiu 1,3% e as horas trabalhadas recuaram 0,5% em maio, na comparação com o mês anterior, enquanto que o número de emprego cresceu 0,4%.

Medidas do BC. Para o economista da CNI, as chamadas medidas macroprudenciais adotadas pelo Banco Central para conter o crédito, a partir do final de 2010, já estão surtindo efeito na economia real. "Apesar de o mercado de trabalho em geral estar mostrando dinamismo, a verdade é que o consumo, principalmente das famílias, começa a mostrar desaceleração", destacou.

Ávila estima que o efeito do aumento da taxa básica de juros nos últimos meses ainda será sentido na economia, reforçando o movimento de arrefecimento da indústria.

A CNI trabalha com uma estimativa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) este ano de 3,8% e de 3,2% para a indústria. Segundo Ávila, o indicador de emprego vai seguir a tendência de desaceleração da economia com um pouco de defasagem. "A velocidade de expansão está menor. Os próximos meses podem ter aumento, mas não na mesma intensidade."

O economista acredita que parte do crescimento da atividade industrial nos cinco primeiros meses de 2011 ainda é influência do forte desempenho do segundo semestre de 2010. Por isso, os indicadores setoriais são positivos em relação ao ano passado.

Dos 19 setores pesquisados, somente têxteis, vestuário e madeira apresentaram queda nas vendas reais em relação a maio de 2010. Nas horas trabalhadas, 16 setores tiveram expansão, enquanto 14 setores da indústria de transformação ampliaram as vagas de trabalho no mesmo período.