Título: A indústria nacional não está sob risco de recessão
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2011, Economia, p. B2

O andamento da produção industrial suscita dúvidas, mas não se vislumbra risco de recessão. Ao contrário, depois da publicação do IBGE apresentando crescimento de 1,3% em maio, em relação a abril, com ajuste sazonal, os Indicadores Industriais da Confederação Nacional da Indústria (CNI) para o mesmo mês mostraram faturamento real com recuo de 1,3% (dessazonalizado), ao passo que os dados não dessazonalizados apresentaram aumento real de 9,7%.

Os dados da CNI fornecem informações que não se encontram nos do IBGE e que ajudam a captar melhor os rumos do setor. O faturamento real, em relação ao mesmo mês de 2010, cresceu 6,7% e 6% nos cinco primeiros meses do ano. Ainda que se reconheça uma pequena desaceleração, não dá para falar em crise na produção industrial. As horas trabalhadas nesses cinco meses aumentaram 2,9%, o que revela uma elevação da produtividade; e o emprego aumentou 3,6%. O dado mais interessante é o da massa salarial real, que cresceu 5,5% nos cinco meses, o que permite prever que a demanda doméstica terá uma base sólida para crescer, apesar do aumento do endividamento das famílias.

Para falar de recessão industrial, alguns economistas se referiram ao fato de que a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) era inferior à de 2010. O argumento parece ignorar que a indústria investiu muito nos últimos meses, chegando a ter atualmente uma capacidade excedente que lhe permitirá atender a qualquer aumento da demanda. Além disso, em maio a UCI voltou a crescer em termos dessazonalizados.

No mesmo dia em que a CNI divulgava seus Indicadores Industriais, o IBGE tornava públicos dados sobre a produção regional da indústria - lembrando que em maio, na margem, para toda a indústria, esse instituto já havia registrado elevação de 1,3% da produção global. Das 14 regiões pesquisadas, 11 apresentavam crescimento, com muitas variações, no entanto. Goiás acusou crescimento de 15%, com a inauguração de uma fábrica de fertilizantes; enquanto Santa Catarina apresentou recuo de 2,4%, cuja fonte é a crise da indústria têxtil local afetada pelas importações provenientes dos países asiáticos.

Nessa análise regional, o caso de São Paulo é o mais saliente. A indústria local é responsável por cerca de 40% da produção industrial do País, e cresceu bem acima da média nacional em maio (1,9%). A diferença é mais sensível no que se refere ao acumulado do ano (2,6%, ante uma média de 1,8%), indicando uma recuperação da indústria paulista.