Título: Fluxo cambial fica negativo em US$ 2,56 bi no mês de junho
Autor: Xavier, Luciana Antonello
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2011, Economia, p. B4

Pela primeira vez no ano, as saídas de dólares superaram as entradas no Brasil em um mês, segundo o Banco Central

Pela primeira vez neste ano, as saídas de dólares superaram as entradas no Brasil em um mês inteiro. Segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central, o chamado fluxo cambial ficou em junho negativo em US$ 2,56 bilhões. Apesar do desempenho deficitário no mês passado, o saldo cambial no primeiro semestre de 2011 foi bastante positivo, com as entradas superando as saídas em US$ 39,83 bilhões. O volume foi 11,8 vezes maior do que o saldo positivo do primeiro semestre de 2010, de US$ 3,363 bilhões, e o maior para o período desde 2007.

Os dados do fluxo cambial não são detalhados pelo Banco Central, mas os números divulgados sobre as contas externas até maio mostravam que empréstimos e investimentos diretos turbinaram o fluxo de moeda estrangeira para o Brasil neste ano. No caso de empréstimos, houve uma montanha de ingressos no primeiro trimestre, quando ainda não valia a taxação de 6% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nos financiamentos tomados no exterior com prazo de até dois anos.

A partir de abril, quando a iniciativa entrou em vigor, o fluxo nesse segmento diminuiu. Tanto que o segmento financeiro (onde são registrados os empréstimos, investimentos e tudo o mais que não se refere à balança comercial) vem desde abril operando no terreno negativo.

Em junho, o fluxo financeiro teve resultado negativo de US$ 3,93 bilhões. Mas no semestre, o saldo é altamente positivo: entrada líquida de 23,64 bilhões.

O fluxo comercial, por sua vez, manteve-se no terreno positivo em todo o ano, à exceção do mês de fevereiro. Em junho, as exportações superaram as importações em US$ 1,38 bilhão, levando o superávit acumulado no ano à casa de US$ 16,19 bilhões.

Para o diretor de câmbio da NGO corretora, Sidnei Moura Nehme, os números de junho mostram que o fluxo cambial não é o principal fator determinante para definir a cotação do real ante o dólar. Ele lembrou que mesmo com o saldo negativo no mercado de câmbio, o dólar perdeu valor - a queda no mês foi de mais de 1%, com a taxa fechando no nível mais baixo desde janeiro de 1999. "Agora ficou difícil culpar o fluxo, porque houve queda no dólar mesmo com saldo negativo", disse.

Segundo Nehme, o que tem puxado para baixo a cotação da moeda norte-americana são as ações especulativas de fundos estrangeiros que operam no mercado futuro. Segundo ele, com a mudança na fórmula de cálculo da taxa oficial média de câmbio (PTax), que se iniciou neste mês, este tipo de especulação que vinha do mercado futuro e atingia a cotação à vista tende a ser inibida.

O Banco Central informou também que os bancos fecharam junho com apostas de US$ 14,69 bilhões na queda do dólar - a chamada posição vendida. O montante foi 58% superior ao verificado em maio e acima dos cerca de US$ 10 bilhões que o BC disse no início do ano considerar adequado para o sistema.