Título: Abilio Diniz diz que avisou sócio em dezembro
Autor: Mangueira, Clarissa ; Scholz, Cley
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2011, Negócios, p. B14

Empresário afirma a jornal francês que alertou o comandante do Casino de que visitaria lojas do Carrefour e de outros concorrentes

O empresário Abílio Diniz, presidente do conselho de Administração do Grupo Pão de Açúcar, afirmou em entrevista ao jornal francês "Le Figaro" que avisou em dezembro o diretor-presidente do Casino, Jean-Charles Naouri, que iria entrar em contato com o Carrefour.

Diniz contou que, no almoço que se seguiu à reunião do conselho do Casino, em 3 de dezembro, falou a Naouri que iria visitar as lojas do Carrefour e de empresas concorrentes na Espanha, Bélgica e Itália. "Não entendo por que ele está surpreso", ressaltou. "Jean-Charles Naouri estava perfeitamente consciente de que eu estava interessado no Carrefour."

As declarações de Abilio contradizem as afirmações de Naouri em entrevista publicada na edição de quarta-feira pelo Estado. Segundo Naouri, ele se encontrou inúmeras vezes com o presidente do conselho do Pão de Açúcar: "Eu o vi dezenas de vezes, muitas a pedido dele mesmo. Na última vez, em 15 de abril, surpreso com sua presença em Paris, perguntei se ele estava negociando alguma coisa e, em caso positivo, com quem. Ele me respondeu formalmente que não tinha nada a dizer."

Naouri afirmou também que entre esse dia e o vazamento da negociação, em 22 de maio, houve inúmeras discussões.

"Nas semanas que se seguiram até a segunda-feira antes do anúncio (da proposta de fusão), os assessores se falaram. Os meus pediram aos deles um encontro e os deles disseram que não tinham nada a dizer."

Perguntado a razão do interesse do Pão de Açúcar em se unir ao Carrefour, que enfrenta dificuldades, Abilio respondeu que a empresa francesa tem uma forte posição na Europa, o que lhe dá condições de superar as dificuldades.

Ele destacou que a margem operacional do Pão de Açúcar é superior a 7%, enquanto a do Carrefour no Brasil é inferior a 1%. "Se nós conseguirmos colocar o Carrefour no mesmo nível do Pão de Açúcar, as perspectivas de crescimento do lucro são muito fortes."

Abilio afirmou ao Le Figaro que respeita o pacto de acionistas celebrado entre CBD e Casino, que prevê que a empresa francesa assumiria o controle total da empresa brasileira, mas disse estar convencido de que poderia persuadir o Casino a aceitar a fusão. "Não acho que Jean-Charles será contrário a esse projeto, que é bom para todo mundo", disse. "Minha intenção é a de discutir isso com ele."

Negociação. Dentro do Pão de Açúcar, a crença é que a ferrenha oposição do Casino ao negócio com o Carrefour seja "cortina de fumaça" - no fim das contas, o lado de Abilio Diniz acredita que é possível reverter a situação, apesar das discussões públicas com Jean-Charles Naouri. A empresa francesa, no entanto, tem outro discurso: o grupo Casino simplesmente pretende assumir o controle do negócio que comprou, conforme o acordo firmado há seis anos.

Em sua página no Twitter, que tem 106,5 mil seguidores, Abilio voltou a falar sobre a fusão. Ele enviou um link com artigo de Eduardo Rossi, consultor da Península Participações, empresa da família de Abilio Diniz que detém, junto com o sócio Casino, o controle do Pão de Açúcar por intermédio da holding Wilkes. "Sobre a proposta de fusão com o Carrefour, indico a leitura deste artigo", disse Abilio.

O artigo defende que "o potencial negócio deve ser visto pelo prisma de todos os acionistas e da companhia". E conclui com umaa defesa da posição de Abilio: "Diante dessas vantagens para a empresa e para o país, Abilio não hesitou em abrir mão de direitos pessoais ao defender a proposta. Ele ganhará muito mais com os lucros da empresa, sem contar com a satisfação de ver um grupo com gestão brasileira ser uma das grandes potências mundiais do varejo".

Em entrevista publicada na edição de ontem do jornal O Globo, Abilio diz que, se o acordo não sair, a única saída é "sentar na calçada e chorar". "Acho que isso vai prejudicar o valor da companhia", disse. Na entrevista o empresário diz que é otimista: "Acredito em Deus."