Título: Falso testemunho em denúncia de estupro livra Strauss-Kahn de prisão
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2011, Internacional, p. A12

Camareira que acusa ex-diretor-gerente do FMI muda depoimento e processo deve ser encerrado, o que abre caminho para ele disputar primárias presidenciais na França; advogado da suposta vítima diz que, apesar de erros, crime ocorreu

Em uma inesperada reviravolta, a Justiça de Nova York decidiu libertar da prisão domiciliar o ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) Dominique Strauss-Kahn, acusado de tentativa de estupro. Nas próximas semanas, o processo pode ser arquivado, abrindo caminho para ele retornar à França, onde ainda teria tempo de disputar as primárias do Partido Socialista para as eleições presidenciais do ano que vem.

Justin Lane/EfeLibertação. Após novas revelações, ex-diretor-gerente do FMI Dominique Strauss-Kahn deixa tribunal de Nova York A decisão judicial ocorreu depois de a promotoria descobrir que a camareira Nafissatou Diallo alterou a parte de seu depoimento referente aos momentos seguintes ao caso em que ela diz ter sido atacada sexualmente por Strauss-Kahn em uma suíte do Hotel Sofitel, em Manhattan. Natural de Guiné, ela também é suspeita de lavagem dinheiro, ligação com traficantes de drogas e de mentir no seu pedido de asilo nos EUA.

Inicialmente, a suposta vítima disse ter ficado escondida no corredor depois do suposto estupro, no dia 14 de maio, esperando Strauss-Kahn deixar o quarto, antes de avisar os seus superiores. Na nova versão, a camareira teria, na realidade, admitido ter limpado uma outra suíte ao lado e ainda retornado para o quarto do diretor do FMI antes de contar o que teria ocorrido para outros funcionários do hotel.

Ela também admitiu ter mentido em seu pedido de asilo, ao afirmar ter sido estuprada por uma gangue em Guiné, alterado sua renda e dito que, além de sua filha de 15 anos, seria mãe de outra criança. Essas informações estariam em uma fita cassete entregue a ela por um homem. A camareira, de 32 anos, teria memorizado tudo.

Para completar a série de eventos que afetaram sua credibilidade, um dia depois do suposto ataque, Nafissatou conversou com um homem, que está preso, para discutir quais seriam as vantagens de levar adiante um processo judicial contra Strauss-Kahn. A conversa foi gravada.

"Entendo que as circunstâncias nesse caso se alteraram substancialmente", disse o juiz Michael Obus. Os promotores afirmaram que ainda acreditam ter havido estupro. O problema, segundo eles, seria defender o argumento para jurados depois de a credibilidade da vítima ter sido afetada.

O advogado de defesa, Benjamin Brafman, comemorou a libertação de seu cliente. "Minha equipe acreditou, desde o início, que esse caso não era o que parecia", disse. "Estamos absolutamente convencidos de que o próximo passo será a suspensão das acusações". Alan Abramson, um dos maiores criminalistas dos EUA, concorda que "o caso deve ser arquivado em breve".

Novo depoimento. A advogado da camareira, Kenneth Thompson, admitiu que sua cliente cometeu alguns erros. Segundo ele, no entanto, isso não significa que ela não tenha sido vítima de um estupro. Endurecendo o tom contra a promotoria, ele afirmou que o procurador-geral de Manhattan, Cyrus Vance, está com medo de seguir adiante com o caso.

O advogado declarou também que promotores atacaram verbalmente sua cliente e lembrou que uma das integrantes da promotoria é casada com um sócio do escritório de Brafman.

Segundo Thompson, a camareira deve dizer nos próximos dias como teria sido o ataque. O advogado diz que a promotoria tem fotos de feridas supostamente causadas por Strauss-Kahn.