Título: Em vídeo, Chávez mostra de Cuba que ainda manda
Autor: Lameirinhas, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2011, Internacional, p. A21

Mistério sobre retorno e tipo de tumor cancerígeno de presidente preocupa aliados

Em mais uma tentativa de demonstrar que a doença do presidente Hugo Chávez não provocou um vácuo de poder, o governo venezuelano pôs no ar ontem uma reunião ministerial realizada na quarta-feira à tarde e liderada pelo presidente - que permanece em Havana -, via videoconferência.

A mensagem política era clara: o líder bolivariano mantém o controle do governo, mesmo se recuperando em Cuba, enquanto o vice-presidente Elías Jaua e o chanceler Nicolás Maduro se encarregam de cumprir suas orientações na Venezuela.

O cenário venezuelano das últimas semanas tem se mostrado turbulento - com o manejo de uma crise carcerária que já se arrasta há quase um mês, os apagões se intensificando por causa da redução do nível da Represa de Guri, a criminalidade urbana transformando Caracas numa das capitais mais perigosas da região e os serviços públicos de saúde e educação se deteriorando.

A oposição tem reagido com cautela, para não correr o risco de sedimentar a imagem de que busca tirar vantagem eleitoral do câncer do presidente. No entanto, em particular, já trabalha com a hipótese de enfrentar outro candidato chavista nas eleições de novembro de 2012.

A "mensagem à nação" de quinta-feira, na qual o presidente venezuelano, Hugo Chávez, admitiu ter "extirpado tumores cancerígenos", não cumpriu o objetivo de acalmar o campo chavista e dissipar as dúvidas que cercam a política do país. Dois novos mistérios se somaram ao cenário: quando Chávez retornará à Venezuela e de qual órgão o tumor teria sido removido.

"O fato de ele (Chávez) não ter especificado de qual órgão retirou as células cancerosas pode significar que a doença esteja num estado mais avançado do que se divulgou até agora e tenha se espalhado, o que o obrigaria a submeter-se a sessões de quimioterapia", declarou ao Estado o professor de Ciências Política da Universidade Metropolitana Carlos López. "Ainda é muito cedo para que se saiba qual será o efeito político e eleitoral desses novos fatos."

"Ele está vivo! Ele está vivo!", gritavam ontem pela manhã partidários de Chávez concentrados na Praça Bolívar, perto do Palácio Miraflores, numa clara indicação da tensão que envolvia os militantes do governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) desde o dia 10. O prolongado silêncio do líder vinha aprofundando o suspense.

Em razão da doença, Chávez - que já tinha cancelado uma reunião de cúpula de entidades regionais - deve estar ausente das celebrações do bicentenário da independência, na terça-feira. O PSUV pretendia usar o evento, que vem sendo preparado há quase dois anos, como plataforma para lançar as candidaturas para 2012. Ontem, o mercado financeiro reagiu positivamente à possibilidade de Chávez deixar o poder. Os títulos da dívida externa da Venezuela se valorizaram quase 2%.

Autoridades.[ ] [/ ]O vice-presidente venezuelano reafirmou ontem que Chávez comanda o governo. "As atribuições estabelecidas (ao presidente) na Constituição competem a ele em qualquer lugar do mundo que esteja", disse Jaua, garantindo que, mesmo de Cuba, o líder bolivariano "tem a plenitude de suas atribuições".

"Chávez é e será o líder indiscutível da revolução; e é chefe de Estado e chefe de governo. Aqui quem manda é o Chávez", afirmou o ministro de Energia venezuelano, Rafael Ramírez, em um ato com trabalhadores do país.

A instabilidade levou um dos militares mais graduados do país a se manifestar. "O país está calmo", disse o general Henry Rangel Silva, afirmando que a recuperação de Chávez é "satisfatória".