Título: Emergentes não serão poupados, alerta BIS
Autor: Andrei Netto
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2011, Economia, p. B10

Estudo da entidade aponta que crise deverá se espalhar, o que poderá comprometer a estabilidade mundial

CORRESPONDENTE / GENEBRA

A crise da dívida que começou na Europa vai se espalhar, não poupará nem países emergentes e é uma ameaça para a estabilidade financeira internacional. O alerta é do Banco de Compensações Internacionais (BIS, o banco central dos bancos centrais). A entidade aponta que o risco país elevado será a nova realidade no cenário financeiro e não vai ceder nos próximos anos.

Em estudo sobre a crise da dívida, a instituição concluiu que o buraco nas contas dos governos chegou para ficar por um longo tempo e pede que as autoridades acelerem uma solução se não quiserem ver bancos e todo o sistema financeiro afetados.

O colapso da economia mundial em 2008 obrigou países ricos a promoverem o resgate de setores inteiros de suas economias. Três anos depois, o resultado é a explosão das dívidas dos governos. Entre 2007 e 2010, a média dos déficits orçamentários dos governos passou de 1% para 8% do Produto Interno Bruto (PIB). Já a dívida média saltou de 73% para 97% do PIB.

Os economistas constataram que são esses os governos que sofrem para pagar as contas. Para o BIS, é a economia mundial que está ameaçada. Cálculos indicam que a crise vai se espalhar nos próximos anos e papéis da dívida pública serão considerados ativos de risco. "Olhando para o futuro, as preocupações com o risco soberano devem afetar uma gama mais ampla de países", diz o estudo.

Crise ampla. O banco desfaz a noção de que a crise seja limitada à Europa e aos Estados Unidos e aponta que os emergentes não estão imunes. "Nas economias emergentes, a vulnerabilidade a choques externos e instabilidade política podem ter efeitos adversos esporádicos no risco soberano." O BIS insiste que a crise mais grave é na zona do euro e que os níveis de dívidas dos emergentes são menores.

Não é só a periferia da Europa que sofre com a crise. Ela já atinge Itália e Bélgica e o estudo deixa claro que EUA, Reino Unido e Japão podem ser as próximas grandes ameaças. Junto com a zona do euro somariam "enormes déficits fiscais".

Alguns deles, já foram alertados de que podem perder o status de AAA dado pelas agências de rating. Esses países, além dos resgates bilionários, enfrentam envelhecimento da população, empresas endividadas e famílias com altas taxas de insolvência.

Bancos. Para o BIS, trata-se do fim da percepção de que os papéis do Tesouro desses países não representam risco e quem sofrerá são os bancos. Na Europa, as instituições têm exposição de cerca de US$ 1 trilhão nas economias que sofrem com dívidas elevadas. A crise da dívida pode levar a uma maior dificuldade dos bancos em relação à liquidez, além da erosão do lucro e da estabilidade. Os primeiros exemplos são dos bancos de Portugal e Grécia.