Título: Crise chega à Itália e derruba bolsas
Autor: Andrei Netto
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2011, Economia, p. B10

Ameaça à estabilidade do governo de Silvio Berlusconi, atingido por novo escândalo de corrupção, provoca pânico entre investidores

CORRESPONDENTE / PARIS

As bolsas de valores da União Europeia e no mundo viveram ontem mais um dia turbulento por causa da crise das dívidas soberanas, que ameaça fugir do controle de Bruxelas. Depois da Grécia, da Irlanda e de Portugal, a Itália foi a causa do pânico dos investidores, que especularam sobre a estabilidade do governo de Silvio Berlusconi após um novo escândalo de corrupção, agora envolvendo o ministro da Economia, Giulio Tremonti.

O resultado da crise política italiana foram bolsas de valores no vermelho em todo o continente, com reflexos em todo o mundo. Em Milão, novo epicentro da turbulência, o índice MIB caiu 3,96%. As perdas se irradiaram por toda a UE. Em Lisboa, o índice PSI 20 despencou 4,28%, embalado pelas dúvidas sobre a capacidade de Portugal de honrar os vencimentos de sua dívida.

Em Madri o Ibex 35 também caiu, perdendo 2,69%. Em Londres, Paris e Frankfurt, o resultado foi semelhante: 1,03%, 2,33% e 2,71%, respectivamente. Em Nova York, queda de 1,2% no índice Dow Jones e de 2% na Nasdaq. Em Buenos Aires, recuo de 2,14% no Merval. Em Tóquio, o índice Nikkei abriu com queda de 1,02%.

Em todas as bolsas, o impacto mais forte ocorreu sobre as ações de empresas do sistema financeiro. O UniCredit, maior banco da Itália, perdeu 7,85% ontem, pouco mais do que o Banco Popolare e do que o Intesa Sanpaolo, cujas quedas foram de 6,46% e 4,56%. A onda de especulações sobre a Itália também prejudicou o desempenho de instituições bancárias de países vizinhos. Na França, o BNP Paribas perdia 3,92% no fim da tarde, mesma tendência de Société Générale e Crédit Agricole, cujas ações caíam 3,88% e 3,05%.

Não bastasse, o ágio médio cobrado pelos investidores para a compra de títulos da dívida soberana com validade de dez anos chegou a 5,259%, novo recorde negativo. A pressão também atingiu o euro, que valia US$ 1,4025 às 20h40, no horário de Paris, ante US$ 1,4258 na sexta-feira.

Especulações. A instabilidade foi alimentada por informações vindas de Roma. Falando sobre seu ministro da Economia, autor do plano de austeridade aprovado em primeira votação na quinta-feira, Berlusconi enfatizou o tom crítico. "Ele acredita ser um gênio, para o qual todos os outros são cretinos", disse o premiê, segundo o jornal La Repubblica. "Eu o suporto porque o conheço há muito tempo e o aceito dessa forma. Mas é o único que não joga o jogo de equipe."

Além das críticas, Tremonti - um dos avalistas da estabilidade econômica italiana - terá de responder a denúncias de corrupção. Seu ex-conselheiro Marco Milanese é suspeito de pagar os custos de seu aluguel em Roma.

Berlusconi garantiu que seu governo vai cumprir a meta de voltar ao equilíbrio orçamentário até 2014. O problema é que o próprio primeiro-ministro vive no centro de uma crise política permanente, com perda progressiva da popularidade.

Preocupada, a chanceler alemã, Angela Merkel, telefonou a Berlusconi para pedir que a Itália adote o plano de rigor o mais cedo possível. O plano é crucial para o país reduzir seu nível de endividamento, hoje na casa de 120% do PIB. Analistas veem o objetivo como factível, já que o país não enfrenta grande comprometimento da receita, como Grécia, Irlanda e Portugal. O déficit italiano é de 4,6%.

Além das dúvidas sobre a Itália, o mercado financeiro também se mostra tenso em relação ao resultado do novo teste de estresse do sistema financeiro promovido pelo Banco Central Europeu (BCE). Ao todo, 91 instituições voltaram a ser inspecionadas, com critérios mais rígidos do que em 2010. O resultado será conhecido na sexta-feira, mas o futuro presidente do BCE, o italiano Mario Draghi, se disse "certo" de que as maiores instituições da Europa serão aprovadas.

Para analistas, a semana de tensão é desde já um dos pontos altos da crise da União Europeia. "Nós estamos em um dos piores momentos da crise monetária europeia", avalia Jean-François Robin, analista do banco francês Natixis. "A ideia de um contágio da crise grega em outros países da zona do euro, como Itália e Espanha, está ganhando corpo."