Título: China desbanca Vale na disputa por mineradora africana
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2011, Negócios, p. B15

Última proposta da chinesa Jinchuan superou em 20% a oferta da brasileira pela mineradora Metorex

CORRESPONDENTE / GENEBRA

Na disputa pelos recursos naturais da África, a China desloca o Brasil e ganha terreno no continente. Ontem, a mineradora sul-africana Metorex anunciou que a brasileira Vale não faria uma nova oferta de aquisição da empresa africana para superar a proposta apresentada pela chinesa Jinchuan. Pequim ofereceu 20% mais do que a brasileira para controlar a companhia com o objetivo de acessar o cobalto e cobre em jazidas no interior do continente africano.

No mercado financeiro, a disputa pela empresa sul-africana entre Brasil e China se transformou no espelho da corrida dos países emergentes pelos recursos da região e é o mais recente exemplo da possível tensão entre Brasília e Pequim para estabelecer uma influência na região.

Até 2016, a Vale planejava investir cerca de US$ 12 bilhões na África, região considerada inexplorada em muitas áreas e uma alternativa às jazidas que dão sinais de esgotamento em outras partes do mundo. Na Guiné, a Vale tem o maior projeto do país e que inclui até obras na vizinha Libéria.

A modesta Metorex passou a ser o mais novo alvo dessa disputa. Em abril, a Vale fechou um entendimento com os sul-africanos por US$ 1,1 bilhão. O acordo estava quase fechado e os acionistas da empresa estavam prestes a votar a venda para a empresa brasileira. Mas, na semana passada, os chineses ofereceram US$ 1,3 bilhão pela mineradora.

Os sul-africanos deram oito dias para que a Vale apresentasse uma contraoferta e o mercado apostava que essa nova proposta apareceria. Ontem, porém, a companhia sul-africana divulgou um comunicado em que explicava que a empresa brasileira havia informado que não haveria uma nova oferta.

O acordo que existia entre os sul-africanos e a Vale será desfeito, com um pagamento de compensações de 75,2 milhões de rands. "O conselho vai se reunir proximamente para considerar sua posição em relação à oferta da Vale e a da Jinchuan", informou a empresa sul-africana em comunicado.

Mas o apetite chinês pelos recursos naturais africanos tem levado Pequim a não economizar na busca pelo controle de jazidas que possam garantir o abastecimento da sua expansão. No caso da empresa sul-africana, ela conta com acesso ao cobre e cobalto da Zâmbia e da República Democrática do Congo.

A Jinchuan é a maior produtora de níquel da China. Mas, com a eventual aquisição, terá acesso à mina de cobre de Chibuluma, na Zâmbia, com uma produção anual de 16 mil toneladas.

"A aquisição proposta representa uma oportunidade única para a Jinchuan construir uma plataforma para adquirir, desenvolver e operar projetos de cobre e cobalto na África com um potencial de crescimento substancial", indicou a empresa chinesa, em um comunicado.

Para fazer a nova proposta, os chineses contaram com uma garantia incondicional do Banco da China.

Assim que a eventual aquisição for aprovada, a Metorex será retirada da bolsa de Johannesburgo. Com isso, Pequim poderá ignorar a proposta do governo sul-africano de ter empresas que lidam com recursos naturais controladas por empresários locais e com cotas na gerência para negros.