Título: Indústria registra recorde, mas IBGE vê só acomodação
Autor: Amorim, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2011, Economia, p. B5

Produção industrial sobe 1,3% em maio na comparação com abril e atinge o maior patamar desde 1991, início da série histórica

A produção industrial brasileira atingiu em maio o maior patamar desde 1991, início da série histórica da Pesquisa Industrial Mensal: Produção Física, apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas, apesar do avanço de 1,3% em maio, na comparação com abril, o ritmo está menos acelerado do que no ano passado.

Uma das razões para o pé no freio seriam as medidas macroprudenciais tomadas pelo governo para conter o consumo e desaquecer a economia, o que já estaria afetando a produção de bens de consumo duráveis. Para André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, há uma tendência de acomodação.

"Esse comportamento é bem observado pelo índice de média móvel trimestral, um indicador de trajetória, que mantém resultados positivos, mas menos intensos com o passar dos meses", observou Macedo. "No acumulado de 12 meses, a produção cresceu 4,5%, abaixo do observado até abril, de 5,4%, e com bem menos intensidade do que havia sinalizado até outubro do ano passado, de 11,8%",

O economista Marcelo Gazzano, do Royal Bank of Scotland (RBS), acredita que o aumento da produção industrial é condizente com uma desaceleração mais fraca do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre do ano. "Isso mostra que a indústria não está tão fraca como vem se falando por aí", diz Gazzano, que aposta em taxas entre 0,30% e 0,40% para a expansão da produção de junho a dezembro.

Em maio, na indústria como um todo, houve expansão em 19 das 27 atividades, entre elas a fabricação de alimentos; produtos de metal; veículos automotores; máquinas e equipamentos; refino de petróleo e produção de álcool; e máquinas, aparelhos e materiais elétricos.

Na indústria automotiva, o destaque positivo foi a produção de caminhões e autopeças, embora a fabricação de automóveis não tenha registrado bom desempenho. "A produção de automóveis foi prejudicada por causa de paralisações, greves e dificuldade na obtenção de matérias primas", disse Macedo.

Bens duráveis. Apesar do resultado positivo da produção de bens duráveis, que avançou 2,7% em maio na comparação com abril e 2,3% ante o mesmo mês de 2010, a categoria sente o efeito da menor oferta do crédito e aumento da taxa de juros, o que pode ser observado na margem da série.

"Quando se observa um comportamento mês a mês, o item (bens de consumo) duráveis acaba sendo mais atingido por essas medidas, principalmente quando comparamos o patamar que o setor opera nesse momento e o que operava em dezembro. É o que mostra o menor ganho das categorias de uso", observou Macedo, culpando a produção de automóveis, e um pouco de eletrodomésticos, pelo comportamento mais moderado da produção de bens de consumo duráveis.

Já a produção de bens de capital cresceu em maio nas duas bases de comparação: 1,7% ante abril e 7,1% na comparação com maio de 2010. A categoria foi impulsionada, sobretudo, pelo crescimento nos subsetores de transporte e construção e, em menor escala, por bens de capital para fins industriais.

Revisão. O IBGE ainda revisou a produção industrial de abril, que passou de uma queda de 2,1% para uma recuo menor, de 1,2%, na comparação com março. O instituto explica que a revisão ocorre pela própria entrada do dado de maio na série histórica, provocando um recálculo natural. Mas a economista Marianna Costa, da Link Investimentos, avalia que a revisão de abril foi relevante e que a expansão da indústria parece sugerir que há um pouco mais de robustez do que havia sido projetado. / COLABORARAM FRANCISCO CARLOS DE ASSIS E NALU FERNANDES