Título: Para Fraga, controle de capital tem fôlego curto
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2011, Economia, p. B11

Ex-presidente do Banco Central defendeu o sistema de metas de inflação e o arcabouço simples e transparente para a atuação do Banco Central

Os controles de capital têm fôlego curto, para Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central (BC) e hoje à frente da Gávea Investimentos, no Rio. "Eu não acredito que controle de capital resolva as coisas por muito tempo", disse ontem Fraga, no seminário Políticas Monetária e Macroprudencial, organizado pelo G-20 e pelo Banco Central (BC) na quinta e sexta-feira, no Hotel Sofitel no Rio.

Fraga foi o palestrante durante o almoço, na sexta-feira, e fez uma defesa enfática da preservação do sistema de metas de inflação e de um arcabouço simples e transparente para a atuação do Banco Central. O seminário teve a participação de economistas de renome mundial, como Alan Blinder, da Universidade de Princeton (e ex-vice-chairman do Federal Reserve, banco central americano), e Michael Dooley, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz. O grande tema do seminário foi justamente a mudança no papel dos bancos centrais depois da crise econômica global.

Boa parte dos participantes, com destaque para Claudio Borio, do Banco para Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), pregou a necessidade de os bancos centrais ampliarem a sua atuação, perseguindo mais objetivos e utilizando mais instrumentos do que o padrão relativamente simples que era consensual antes da crise - perseguir um objetivo, a inflação, com um instrumento, a taxa básica de juros.

A visão predominante nas discussões foi a de que esse escopo muito limitado de atuação dos bancos centrais no período anterior a crise foi em parte responsável pela sua eclosão. Assim, como a inflação se manteve baixa por um longo período, os bancos centrais e outras autoridades econômicas tendiam a pensar que a economia estava em equilíbrio, quando, na verdade, uma imensa bolha imobiliária e financeira estava em expansão.

Assim, de acordo com essa visão, agora os bancos centrais têm de atuar não só por meio da taxa básica, mas também através de "medidas macroprudenciais" (exigências de capital, regras de provisionamento, depósitos compulsórios, etc.), e até de controles de capital, para perseguir não só a estabilidade de preços, mas também para evitar ou suavizar o surgimento de desequilíbrios financeiros e bolhas - e tornar os bancos mais resistentes a esses eventos, para que não haja colapsos de crédito, com efeitos catastróficos sobre a economia real, como o ocorrido depois da crise de 2008 e 2009, especialmente nos países ricos.

Fraga, como Dooley, mostrou-se muito cauteloso em relação a essa nova abordagem. O ex-presidente do BC se mostrou preocupado com os debates do seminário, que pareceram, na sua opinião, indicar que havia uma "licença para se propor praticamente qualquer coisa que venha à cabeça". A sua recomendação para qualquer eventual mudança nos papel dos bancos centrais é de "mantenha simples".