Título: Ministros podem liberar hoje 12 bi de euros para a Grécia
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2011, Economia, p. B14

Reunião, que seria amanhã, foi substituída por conferência telefônica para assim permitir o desbloqueio imediato do dinheiro

A União Europeia deve liberar hoje uma parcela do empréstimo para a Grécia, o que permitirá ao país honrar suas dívidas que vencem neste mês. Diante da aprovação do pacote de austeridade, em Atenas há dois dias, a UE também deve fazer avançar as negociações para um segundo resgate no valor de 85 bilhões.

Os ministros de Finanças da UE se reuniriam neste domingo para debater a situação grega. Mas a reunião foi antecipada para hoje, em uma teleconferência, para permitir o desbloqueio imediato dos recursos, no valor de 12 bilhões.

Os governos europeus haviam estabelecido que apenas aprovariam a nova parcela se os gregos dessem uma demonstração clara de compromisso com uma reforma interna, o que acabou ocorrendo. "Temos agora um consenso suficiente para tomar uma decisão no fim de semana sobre a transferência para a Grécia", disse Olli Rehn, comissário de Economia da UE.

A reunião de hoje ainda servirá para que os governos da zona do euro comecem a desenhar os detalhes do que seria o novo projeto de resgate da Grécia, apenas um ano depois de terem dado 110 bilhões ao país. A ideia é de que o projeto seja aprovado definitivamente no dia 11 de julho para lidar com a dívida grega que chega a 350 bilhões, 160% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

Monitoramento. Se aprovado, a esperança é de que a primeira parcela já seja dada em setembro, com uma duração de três anos. Além disso, um controle trimestral dos avanços na Grécia será estabelecido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Nos últimos meses, um monitoramento foi feito. Mas se constatou que, apesar dos 110 bilhões dados, a Grécia não resolveu seus problemas de caixa.

Alguns governos, como o da Áustria, insistem que, antes de embarcar em mais um resgate, a UE deve ter mais garantias dos gregos de que o pacote de austeridade será implementado.

No novo pacote, o setor privado ainda vai contribuir, rolando parte da dívida da Grécia em 3,2 bilhões por parte dos bancos alemães. A meta é de que até 30 bilhões da dívida grega tenha os prazos de pagamento adiados. Os governos da UE e bancos contribuirão com 70% do resgate, enquanto o FMI ficará encarregado do resto.

Governos europeus apontam que não têm mais como justificar a seus eleitores um novo resgate para a Grécia. Portanto, a saída está sendo a de chamar o setor privado a participar.

Ontem, os mercados voltaram a reagir de forma positiva.Os papéis soberanos emitidos por Atenas ganharam, assim como o risco país das economias periféricas da Europa voltou a cair. Mas o mercado ainda alerta que há receios de que a Grécia jamais devolverá o dinheiro emprestado pela UE e pelo FMI.

Teste. A crise grega não é somente um problema da Europa ou do euro, mais sim um teste para a estabilidade do sistema financeiro internacional e, portanto, para a economia mundial, avaliou o diretor de Análises e Estratégia da Divisão América do Grupo Santander, José Juan Ruiz.

Os países periféricos não respondem pela maior fatia do PIB da zona do euro. A Grécia representa 3% da economia da região. Com Irlanda e Portugal, esse porcentual não chega a 20%

Entretanto, o problema reside na exposição das instituições financeiras. A Grécia deve US$ 206 bilhões aos bancos. Desse total, US$ 162 bilhões são obrigações com instituições europeias, principalmente da França (US$ 65 bilhões) e da Alemanha (US$ 40 bilhões). A exposição dos EUA é de US$ 41 bilhões.

O executivo acredita que a Grécia está comprando tempo para reestruturar sua dívida, algo que os países da América Latina já têm experiência. Ele recordou que a região só partiu para o Plano Brady em 1989, porque antes disso não seria possível. Na época, o programa reestruturou as dívidas dos países da área. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS