Título: Cade quer suspender marca Perdigão
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2011, Economia, p. B1

Negociação para aprovar a fusão com a Sadia prevê a proibição temporária da marca em produtos com maior concentração de mercado

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a Brasil Foods estão negociando a suspensão temporária da marca Perdigão nos segmentos em que existe maior concentração de mercado. Esse é o principal ponto do acordo que vem sendo costurado para tentar aprovar a fusão de Sadia e Perdigão, depois que um conselheiro do Cade sugeriu vetar a operação por provocar prejuízos ao consumidor.

As negociações, no entanto, não estão concluídas e devem prosseguir até o julgamento, marcado para quarta-feira. Segundo o Estado apurou, existe consenso entre o Cade e a empresa sobre o "remédio", mas a disputa é acirrada sobre a "dosagem". Não há definição em quantos mercados seria feita a suspensão da marca Perdigão, nem por quanto tempo. Fontes próximas à discussão indicam que a suspensão do uso da marca pode ocorrer em pelo menos seis grupos de produtos, por um prazo máximo de cinco anos. Mas o nos termos finais do acordo ainda podem variar bastante.

Com a união das marcas Sadia e Perdigão, a participação de mercado da Brasil Foods chega a 70% em pizzas prontas, 80% em hambúrgueres e empanados de frango, 90% em lasanhas. Os porcentuais também são muito elevados em mercados como o de presunto (70%), linguiça defumada (70%), kit festa aves (90%), carne in natura peru (70%), entre outros. Os dados são da Procuradoria do Cade.

O acordo não prevê restrições para a marca Sadia, que é considerada "premium" e tem preços mais altos. Essa marca está sendo preservada porque é a mais forte na exportação, sendo conhecida em países como Arábia Saudita e Rússia. Também está previsto no acordo a venda de marcas populares e de muitas fábricas e centros de distribuição (leia reportagem na pág. B3).

Nesse ponto da negociação, a suspensão da marca Perdigão se tornou aceitável para a Brasil Foods, que chegou a declarar várias vezes que não faria concessões nas marcas principais. Segundo uma fonte ligada ao processo, a suspensão "pelo menos preserva o sentido da fusão" que seria perdido se uma das marcas principais fosse vendida.

Mas a solução de suspender temporariamente a marca Perdigão é polêmica e ainda gera dúvidas entre os conselheiros do Cade. O órgão está tentando impor condições para que a empresa não se aproveite da oportunidade para lançar outra marca ou ocupar espaço da Perdigão com uma marca que já existe, mantendo seu poder de mercado.

Não é a primeira vez que o Cade adota a solução de suspender uma marca. No passado, o resultado não foi bom. Em 1996, o órgão exigiu que a Colgate suspendesse por quatro anos a marca Kolynos. A empresa lançou então o creme dental Sorriso no mesmo patamar de preço e até com a mesma identidade visual. A substituição foi tão bem sucedida que a Colgate decidiu não voltar a usar a marca Kolynos.