Título: Exportação de manufaturados ainda não recupera nível pré-crise financeira
Autor: Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2011, Economia, p. B8

Em 2008, as vendas externas somaram US$ 92,7 bi; no ano passado, chegaram a US$ 79,6 bi; este ano, até junho, estão em US$ 43,3 bi

Os bons resultados das exportações brasileiras no primeiro semestre deste ano ainda não trazem a recuperação desejada para os produtos manufaturados, que têm maior valor agregado. Apesar da expansão das vendas externas, com recordes sucessivos, a categoria de manufaturados foi a única que ainda não conseguiu voltar ao nível anterior ao da crise financeira internacional.

Em 2008, as exportações de produtos acabados totalizaram US$ 92,7 bilhões. No ano passado, somaram US$ 79,6 bilhões e, este ano, até junho, atingiram US$ 43,4 bilhões.

Por outro lado, os produtos básicos e semimanufaturados ultrapassaram, em 2010, os valores de 2008 e dão sinais de que continuarão ganhando mais espaço na participação da pauta exportadora brasileira.

Os produtos manufaturados representavam 46,8% do total exportado pelo Brasil para o resto do mundo, mas passaram a responder por 39,4% das vendas em 2010. Os básicos aumentaram a participação de 36,9% em 2008 para 44,6% no ano passado.

"A deterioração dos manufaturados é muito grande e esse movimento está sendo muito rápido", afirmou o analista de Políticas e Indústria da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Marcelo Azevedo.

"O mercado externo não está tão mais fraco neste momento. No ano passado, podia-se dizer isso, mas agora já tem mercados que estão melhores. A gente está demorando a voltar ao espaço que tínhamos antes", avaliou o economista.

China. De acordo com Azevedo, o Brasil perdeu vantagem competitiva em relação a outros países, principalmente em relação à China, que ganhou espaço no mercado externo em produtos intensivos em pesquisa e desenvolvimento. Na outra ponta, o Brasil aumentou as importações de produtos acabados, elevando o déficit comercial nesse segmento.

"Ao mesmo tempo em que está exportando mais, está importando ainda mais", destacou o analista da Confederação Nacional da Indústria.

Com base em dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) utilizados pela CNI, o déficit comercial dos produtos manufaturados subiu de US$ 39,8 bilhões em 2008 para US$ 71,1 bilhões em 2010.

A CNI estima que a conta fechará ainda mais negativa este ano. O rombo tem sido coberto pelo aumento do superávit nas demais categorias, alcançado pela combinação de aumento do volume de vendas e dos preços das commodities.

O secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Alessandro Teixeira, disse que o governo federal trabalha para aumentar as exportações de bens de média e alta tecnologias.

"Mas não vamos diminuir as vendas de commodities. Nós estamos crescendo nos três níveis de exportações. As vendas de industrializados (manufaturados e semimanufaturados) são bem superiores às de commodities. Se a gente olhar a pauta de exportação brasileira, relativamente, o que mais cresceu foi semimanufaturado."

Alerta. Teixeira afirmou que o governo está atento a uma possível "primarização" da pauta de exportação. Ele argumenta, no entanto, que os produtos mais afetados depois da crise no mercado internacional são os de média e alta tecnologia, como os eletroeletrônicos. Ele antecipou que os setores químico, automobilístico, transportes e de máquinas e equipamentos, que têm déficits comerciais, receberão atenção especial na nova política industrial em construção no governo da presidente Dilma Rousseff.