Título: Defensores da fusão no varejo tentam convencer políticos em Brasília
Autor: Madueño, Denise ; Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2011, Negócios, p. B17

Representantes da Estáter, "butique de investimentos" por trás da proposta de fusão, visitaram líderes dos partidos governistas e da oposição para tentar anular possíveis resistências à união entre Pão de Açúcar e as operações locais do Carrefour

Responsáveis pela proposta de fusão do Pão de Açúcar e das operações brasileiras do varejista francês Carrefour fizeram uma ofensiva no Congresso esta semana para explicar a negociação para os parlamentares e tentar anular possíveis resistências à operação.

Representantes da empresa Estáter procuraram líderes de partidos governistas e oposicionistas para defender o negócio. A Estáter é uma consultoria financeira, conhecida como "butique de investimentos", e que está por trás das grandes empreitadas da empresa de Abilio Diniz.

Segundo parlamentares, um dos principais pontos que a Estáter tratou nesses encontros com os líderes foi a participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na operação. A reação contra o uso de dinheiro do contribuinte no negócio foi imediata em vários segmentos econômicos e até mesmo dentro do governo. Por isso, o sócio da Estáter, Pércio de Souza, tratou de explicar que o BNDES não vai financiar a fusão, segundo relato dos deputados. Ele teria argumentado que a participação da instituição seria por meio de uma sociedade com o BNDESPar, o braço de investimentos do banco de fomento.

Apesar desse primeiro contato com parlamentares, o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), disse que a fusão deverá ser explicada para os deputados pelas partes envolvidas. Há requerimentos de convite para que o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, representantes do Pão de Açúcar e da rede Casino sejam ouvidos por comissões permanentes da Casa.

O DEM também apresentou requerimento de convocação do ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, para falar na comissão de Defesa do Consumidor. A bancada do partido é majoritariamente contrária à fusão e critica o possível uso de R$ 4,5 bilhões do BNDES.

O PT vai apoiar os convites para os representantes das empresas e do banco de fomento participem de reuniões na Câmara para explicar a operação. "Queremos conhecer todos os lados, saber os argumentos de todos para fazer o nosso juízo", afirmou Teixeira. Os requerimentos deverão ser votados na próxima semana, última dos trabalhos legislativos deste semestre. As audiências públicas para os depoimentos só deverão ser realizadas em agosto, depois da volta do recesso parlamentar.

Casino. Além das incertezas em relação à participação efetiva do BNDES na operação entre o Carrefour e o Pão de Açúcar, outra dúvida que paira sobre o negócio diz respeito ao terceiro envolvido, o francês Casino. O presidente do grupo varejista francês, Jean-Charles Naouri, e Diniz trocaram farpas pela imprensa. O desgaste entre as duas partes pode até contribuir para que o BNDES acabe não se envolvendo no negócio.

O Casino divide com Diniz o capital da controladora do Pão de Açúcar e as empresas fecharam um contrato dizendo que, a partir do próximo ano, o controle da empresa no Brasil ficaria com o grupo francês. Naouri, que se sentiu totalmente alienado da intenção da fusão, veio às pressas ao Brasil para expor sua posição, contrária ao negócio, ao presidente do BNDES, Luciano Coutinho.

A operação que está sendo alinhavada entre Pão de Açúcar e Carrefour é mais uma na imensa lista de formação de grandes conglomerados no setor de varejo no País. O próprio Pão de Açúcar aguarda o aval das autoridades de defesa da concorrência a respeito de outras duas operações: uma com o Ponto Frio e outra com o grupo Casas Bahia.