Título: Ministros europeus admitem, pela primeira vez, calote parcial da Grécia
Autor: Netto, Andrei ; Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/07/2011, Economia, p. B11

Mercado reage, Moody's rebaixa classificação da Irlanda e União Europeia tenta convocar para sexta-feira cúpula de chefes de Estado

Jose Manuel Ribeiro/ReutersContágio. De Portugal, que exibe a pobreza no centro de Lisboa, à Grécia e Irlanda, a crise se alastra pela Itália e Espanha Os líderes europeus deram sinais ontem de que a proposta de um calote parcial da Grécia não é tão improvável e, pela primeira vez, ministros do bloco declararam em público o reconhecimento de que Atenas pode não ter como pagar todas suas dívidas.

Os sinais dados pela União Europeia foram violentamente respondidos pelo mercado financeiro. A agência de classificação de risco Moody"s rebaixou o rating da Irlanda e alertou que a decisão poderia ser adotada em relação a outros países europeus. A declaração foi um recado direto de que o mercado não aceitará uma moratória como opção.

A crise da dívida na Europa fez eclodir uma verdadeira batalha entre governos e mercado financeiro. Mergulhada em uma crise e dividida sem saber o que fazer para superar impasses, a UE tenta convocar para sexta-feira uma cúpula de chefes de Estado. A meta é chegar a um acordo para evitar que a crise que estava limitada à Grécia, Portugal e Irlanda obrigue a um resgate também para Espanha e Itália.

A convocação da cúpula deve ser feita hoje, mas foi antecipada pelo presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy. A urgência ficou clara ontem, quando os mercados financeiros despencaram na abertura das atividades, impulsionados pelo impasse a respeito da participação dos credores privados no novo plano de socorro à Grécia.

Na noite de segunda-feira, os ministros de Finanças da zona do euro não conseguiram chegar a um acordo sobre a modalidade da participação privada. Alemanha, Holanda e Finlândia defendiam o calote parcial da Grécia. "Essa opção não está mais sendo excluída", admitiu o ministro de Finanças da Holanda, Jan Kees de Jager. A posição dos três países foi criticada por vizinhos europeus, como Espanha, e foi desmentida por outros líderes políticos do bloco. "Essa opção está fora de cogitação", assegurou o ministro luxemburguês, Luc Frieden.

Mas, ontem, a ideia de um calote parcial começou a ganhar adeptos, diante da constatação de que a medida pode ser inevitável. Essa seria a primeira moratória da história do euro, se de fato ocorrer. A medida também seria uma reviravolta importante na forma pela qual a UE está tratando os países com problemas. Para o Financial Times, a mudança de posição foi recebida como sinal de um possível acordo.

Até agora, a tentativa era a de satisfazer aos mercados e promover reformas dolorosas. Mas diante da constatação de que não haverá um limite para o ataque de investidores, e que o próximo alvo seria contra a Itália, a opção foi a de mudar de foco.

A Europa enfrenta uma queda de braço entre a Alemanha e seus dois seguidores, que desejam um reescalonamento oficial, embora parcial, da dívida da Grécia, e a França, que lidera um bloco maior de países, favorável à "contribuição voluntária" dos investidores. Uma solução intermediária poderia ser um calote seletivo, na esperança de evitar um contágio generalizado e até impactos nos Estados Unidos.

Mesmo assim, para o mercado, a medida não deixaria de ser vista como calote, com repercussões para diversas economias. O Banco Central Europeu (BCE) voltou a indicar ser contrário à proposta. Mas nenhum governo saiu em apoio ao BCE. "Isso não quer dizer que o Eurogrupo faria algo para provocar tal evento", alertou Jean-Claude Juncker, presidente do Eurogrupo e primeiro-ministro de Luxemburgo.

Reação. O contra-ataque do mercado não demorou a surgir. A Moody"s rebaixou os papéis da dívida irlandesa para o status de "lixo". Para a agência, há uma "possibilidade cada vez maior" de a Irlanda precisar de mais um resgate, em 2013, diante da fragilidade da aplicação das medidas de austeridade.

Mas o recado da Moody"s foi bem mais amplo. A agência também fez um alerta sobre os planos da Grécia, apontando que o envolvimento de bancos no resgate, como quer a Alemanha, pode ser desastroso. A agência ainda criticou a "mudança no tom" entre os governos europeus sobre as condições em que estão dispostos a ajudar os países em crise.