Título: Ativos da Brasil Foods já têm cinco interessados
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2011, Economia, p. B1

Nos últimos dias, a empresa foi contatada por JBS, Marfrig e Tyson e dois fundos de private equity, segundo fontes

Cinco pretendentes já rondam o espólio da Brasil Foods (BRF). Segundo fontes próximas às negociações, a empresa recebeu sondagens de três companhias - JBS, Marfrig e Tyson - e de dois fundos de private equity. Também poderiam entrar na briga investidores árabes e chineses.

"Os amigos aumentaram muito nos últimos dias e também os urubus", brincou José Antonio do Prado Fray, presidente da BRF. Ele afirmou que não há ofertas formais na mesa, mas admitiu que recebeu telefonemas de interessados nos últimos dias.

Pelo acordo assinado com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a BRF será obrigada a vender marcas e ativos que equivalem a uma receita de R$ 1,7 bilhão, ou 7,5% do faturamento líquido total. O comprador terá de se comprometer a garantir os empregos por seis meses e manter os contratos com fornecedores.

O acordo determina um prazo para a venda dos ativos, que foi mantido em sigilo a pedido da BRF, que teme perder poder de negociação com os compradores. "Só posso dizer que essa venda não vai ocorrer este ano. Só em 2012", disse Fay.

A companhia também não revelou o valor dos ativos à venda e disse que a avaliação será feita por um banco a ser contratado. Segundo o executivo, o processo vai demorar porque é preciso "preparar a noiva". "Mas não é qualquer noiva. É uma noiva bonita, filha bem cuidada."

O presidente da BRF também garantiu que vai vender para "quem pagar mais", independentemente da nacionalidade da empresa, ou se vai representar um forte concorrente. "Não tenho preferência. Se for uma estrangeira que pagar mais, nós venderemos."

O Cade gostaria que todos os ativos fossem vendidos a um único comprador, o que ajudaria a criar uma nova empresa capaz de rivalizar com a Brasil Foods. A companhia admite, no entanto, que a venda conjunta do pacote não é "obrigatória". "Depende do comprador. Pode ser que tenha interesse em 90%, mas não no todo", disse Fay.

Outro objetivo do órgão antitruste ao mandar vender as 12 marcas populares - também denominadas "marcas de combate" - é tirar o poder de fogo da BRF para impedir a entrada de novos concorrentes. Quando uma empresa surge, são os produtos baratos que duelam até que as novas marcas mínguem e sejam engolidas pelas líderes.

O conselheiro Ricardo Ruiz, que conduziu as negociações, chegou a afirmar que a marca Rezende poderá atingir o mesmo porte da Sadia depois de ser vendida, porque tem potencial. A participação de mercado da empresa hoje é bastante reduzida.

O Cade também impediu a BRF de lançar novas marcas nos segmentos em que será obrigada a suspender a Perdigão, minando assim um pouco da capacidade da empresa de atender os consumidores da classe C.

A marca Perdigão, no entanto, não será suspensa imediatamente. Isso só vai ocorrer quando a BRF vender o pacote de ativos. Enquanto isso, a BRF poderá colher todos os benefícios e sinergias da fusão.

A partir de ontem, deixou de valer o Acordo de Preservação da Reversibilidade da Operação (Apro) e a companhia está livre para integrar as operações de Sadia e Perdigão. "Hoje (ontem) o Apro deixou de existir, graças a Deus", disse Fay.

Ele afirmou que a BRF finalmente encerrou a aquisição da Sadia e agora colocará em curso um plano de mais de 220 ações para unificar as empresas, principalmente nas áreas comercial e industrial.

Clima. O clima entre a Brasil Foods e os conselheiros do Cade melhorou bastante. A empresa teve um péssimo relacionamento com o relator, Carlos Ragazzo, que votou pela reprovação da fusão. Ontem, o presidente da BRF elogiou as negociações com o conselheiro Ricardo Ruiz. "Foram 40 dias de trabalho muito intensos, mas num nível muito bom", disse Fay.