Título: Para investidores, País corre risco ao controlar capital
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2011, Economia, p. B6

Ao contrário da posição do FMI, gestores de fundos e estrategistas de câmbio internacionais não darão o aval à possível adoção de novas medidas de controle cambial para limitar a valorização do real. O sentimento é que conter a valorização do real por meio de mais medidas restritivas ao capital estrangeiro é "uma batalha perdida" e que mascara os verdadeiros culpados da situação: juros elevados e gastos públicos inchados.

Nos últimos dias, circulam no mercado rumores de que o Brasil está para adotar novas medidas de controle de capital, atingindo os mercados futuros por meio de contratos de derivativos, em especial as posições vendidas em dólar. Um estudo realizado por técnicos do FMI divulgado esta semana endossa a adoção de medidas para taxar as operações no mercado futuro de câmbio, o que retiraria o ímpeto dos investidores em fazer tais operações para se aproveitarem da enorme diferença de juros entre o Brasil e o exterior.

"Não gosto do que o Brasil fez até o momento em termos de controles. Haverá um momento em que o Brasil ficará ansioso por capital externo e as pessoas têm memória", disse à Agência Estado Greg Lesko, diretor-gerente da Deltec Asset Management, que tem US$ 850 milhões em ativos, dos quais quase US$ 200 milhões investidos no Brasil. "Por que a moeda está forte? Porque a taxa de juros está alta. E por que os juros estão elevados? Porque o governo é muito grande. Esse é o problema", disse Lesko, do seu escritório em Nova York, onde o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, está mantendo reuniões com investidores esta semana.

Desde o fim do ano passado, o governo vem adotando medidas de controle de capital para frear a alta do real, como a elevação para 6% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre a entrada de dinheiro para aplicação em renda fixa e também sobre as garantias depositadas por estrangeiros em contratos futuros de câmbio.

Na opinião de Win Thin, diretor de pesquisa para mercados emergentes da Brown Brothers Harriman em Nova York, o governo brasileiro deveria "parar de reclamar" e aceitar um real forte. "Entendo tanta preocupação do Brasil com o fluxo de capital e a apreciação da moeda, mas adotar esses controles no cenário atual para conter a valorização cambial é uma batalha perdida."

Para ele, a adoção de maior controle de capital apenas causará mais desequilíbrios e distorções na economia. "O governo brasileiro é um dos mais agressivos entre os países emergentes na adoção de controles cambiais", disse.

"Na realidade, gostaria de ver o Brasil removendo os vários controles para a saída de capital que existem atualmente", disse Urban Larson, gestor do F&C Management em Londres, com ativos de US$ 3,2 bilhões em mercados emergentes. "Por que tanto esforço em restringir a entrada de capital quando a liberação da saída de capital poderia também aliviar a pressão no câmbio?", indaga Larson.

O real acumula um ganho de 125% frente ao dólar desde o início de 2003, quando o ex-presidente Lula tomou posse no seu primeiro mandato. Essa valorização extraordinária reflete um cenário mundial de excessiva liquidez e juros baixos nas grandes economias mundiais, forte demanda por commodities - que impulsionou as exportações brasileiras - e a elevada taxa de juros brasileira, que vem atraindo um fluxo cada vez maior de capital externo.