Título: Arminio teme efeito colateral de controle cambial
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2011, Economia, p. B6

Para presidente do Conselho da BM&FBovespa, taxações e limites podem afugentar derivativos para mercados de balcão e offshore

Arminio Fraga, sócio-fundador da gestora de recursos Gávea Investimentos e presidente do Conselho de Administração da BM&FBovespa, fez um alerta ontem, em conversa com o Estado, sobre os efeitos colaterais das medidas que vêm sendo consideradas pelo governo para deter a valorização do real. Para ele, há risco de se afugentar operações de derivativos de câmbio e de juros da BM&F Bovespa para os mercados de balcão e offshore (externo).

"Nós fizemos um grande esforço ao longo dos anos aqui no Brasil para criar um sistema mais robusto, mais transparente do que esse que se vê por aí pelo mundo afora. Temos hoje o que outros países sonham em ter, que são situações em que a liquidez, no que diz respeito a taxa de câmbio e taxa de juros, está muito concentrada na bolsa, o que é transparente e seguro. Na medida em que você começa a introduzir muita fricção no sistema, essas operações não desaparecem, você tende a jogá-las para o mercado de balcão e para os mercados no exterior, offshore", comentou Arminio, que é ex-presidente do Banco Central (BC).

Arminio ressaltou que estava falando "com o chapéu de presidente do Conselho da BM&FBovespa". A sua preocupação foi reforçada por reportagem de ontem no jornal Valor Econômico, segundo a qual o BC tem um arsenal de medidas de controle cambial nos mercados derivativos que ainda poderá ser acionado, como taxação de margens e limitação de posições brutas. Segundo a matéria, vários desses instrumentos são sugestões de um estudo recente do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O presidente do Conselho da BM&FBovespa notou ainda que as empresas que têm American Depositary Receipts (ADRs) já negociam cerca de 60% das ações fora do Brasil. Na sua opinião, o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% cobrado dos estrangeiros na bolsa "está longe de ser irrelevante, tanto que o volume hoje é maior lá fora do que aqui dentro - temos uma competição duríssima nos mercados internacionais".

O seu temor é um efeito semelhante nos mercados futuros e de outros derivativos de câmbio e de juros. "Tem uma curva de custo-benefício nisso, e eu não sou a favor de exagerar, porque você acaba não conseguindo (conter as operações). Os mercados vão arbitrar e, simplesmente, deixamos de ver - com o tempo, o mercado migra para fora."

Faroeste. Arminio acha que o Brasil deveria buscar ser um centro financeiro importante, o que traria benefícios econômico ao País. Mas ressalva que isso não significa relaxar a regulação: "Não queremos nem temos a pretensão de ser um faroeste financeiro, nunca ninguém aqui no Brasil acreditou no modelo hiperliberal".

Ele também notou que países como Chile e China, com forte tradição de uso de controles de capital, estão neste momento num movimento inverso. O Chile eliminou os controles, e a China está reduzindo-os.

"A China claramente está indo numa direção de abrir sua conta de capital. É um país que tem uma experiência enorme com controles, inclusive com um sistema político mais forte, que tem todas as condições de pôr em prática esse tipo de mecanismo de controle. E, mesmo assim, hoje eles dão sinais muito claros que isso não está resolvendo a vida deles."

Arminio frisou que não nega a importância da questão da entrada de capital e da pressão no câmbio, que considera "altamente relevante". Mas, para ele, a solução virá com um arranjo macroeconômico que produza um juro real mais baixo, além de um ataque mais efetivo ao custo Brasil.

Quanto ao apoio que o FMI vem dando aos instrumentos de controle de capital, ele vê a instituição num momento de esforços para abrir seu horizonte e sua reflexão. "Mas, com todo o respeito ao trabalho que é desenvolvido lá, o Fundo não tem a experiência que nós temos aqui nesse assunto."