Título: Agências rebaixam Irlanda e Grécia e UE reage
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2011, Economia, p. B7

Um dia depois de a Moody's rebaixar os títulos da Irlanda, a Fitch, seguindo a S&P, cortou 3 pontos o rating da Grécia

Luca Bruno/APCrise. Com cartaz onde se lê `temos fome¿, italiano pede esmola A guerra aberta entre agências de classificação de risco e a União Europeia teve ontem uma nova batalha. Um dia depois de a Moody"s anunciar o rebaixamento dos títulos da dívida da Irlanda ao nível "lixo", a concorrente Fitch informou o recuo em três pontos da nota atribuída às obrigações da Grécia.

Com a nova degradação, Atenas fica a apenas três passos do grau mínimo, DDD, para países falidos. A decisão reacendeu a ira de Bruxelas contra as agências, acusadas de jogar combustível no fogo da crise. A Fitch, que acompanha a iniciativa da Standard & Poor"s, rebaixou a nota grega de B+, "altamente especulativo", a CCC, para investimentos de "risco substancial". A última degradação havia ocorrido em 20 de abril. Em comunicado assinado pelo analista e diretor sênior Paul Rawkins, a agência responsabiliza a incapacidade da União Europeia de chegar a um acordo sobre o novo pacote de socorro à Grécia.

"O rebaixamento de hoje (ontem) reflete a ausência de um novo, bem-fundado e credível programa da UE e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a Grécia", além da "incerteza envolvendo o papel dos credores privados" no futuro resgate.

Segundo a agência, a Grécia precisa de dinheiro urgente para honrar seus compromissos até 2012, conclusão que se baseia em dados da própria UE, que estima em ? 172 bilhões a necessidade de recursos até meados de 2014 - além dos ? 110 bilhões já acordados em maio de 2010. "A Fitch previu a incerteza envolvendo o novo dinheiro, assim como o papel dos credores privados", argumentou a agência.

Em compensação, a Fitch fez elogios ao desempenho da Itália, que está no epicentro da turbulência, mantendo a sua nota AA-, sem viés de baixa. De acordo com Rawkins, o plano de rigor fiscal de ? 40 bilhões será suficiente para reduzir o déficit público dos atuais 4,6% a 0,2% em 2014. Sobre os 120% de relação dívida/Produto Interno Bruto (PIB), a Fitch considera que não se trata de um nível "insustentável", mesmo ante as perspectivas de crescimento baixo e de alta dos juros. A opinião é contrária aos pareceres da Moody"s e da Standard & Poor"s, que estudam rebaixar a nota italiana.

Guerra. Os elogios à Itália não reduziram a ira das autoridades econômicas da UE contra as agências de rating. Antes mesmo do comunicado da Fitch sobre a Grécia, Pia Ahrenkilde, porta-voz do bloco, já criticava a decisão da Moody"s de rebaixar no dia anterior os títulos da Irlanda, país que estaria "no bom caminho". Em Dublin, o governo irlandês também protestou, classificando como "frustrante" a postura da Moody"s. "Ela torna nosso trabalho mais difícil", disse o ministro do Desenvolvimento, Richard Bruton. "É uma decisão decepcionante e em desacordo completo com as opiniões de outras agências."

Os novos rebaixamentos devem relançar a disposição da Europa de retaliar. Há 15 dias, o comissário europeu de Mercados, Michel Barnier, revelou que a UE estuda um projeto para proibir as agências de avaliarem países contemplados por ajuda externa - casos da Grécia, da Irlanda e de Portugal.

A proposta surgiu após o rebaixamento dos títulos portugueses, há dez dias, que, segundo os dirigentes europeus, teria relançado a crise das dívidas soberanas, ampliando a desconfiança sobre a Itália. As críticas às agências são um dos raros pontos de acordo neste momento entre Alemanha e França, que não chegam a um consenso sobre o socorro à Grécia. Para Wolfgang Schäuble, ministro de Finanças alemão, "é preciso estudar a possibilidade de quebrar o oligopólio das agências ". / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS